Longe vai o ano de 1845, em que o jovem Karl Marx escrevia as 11 teses de Feuerbach e que a décima primeira dizia: «Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo».
Foi o preâmbulo teórico de todo um processo de lutas, e mudanças sociais, económicas e políticas ao longo de todo século XX.
Estes primeiros treze anos foram a acrimónia dos últimos anos do século transato. Tem sido feito, com algum sucesso aliás, um esforço continuado em obliterar ideologias que prevaleceram dominantes no mundo no século passado e que, por razões ainda não suficientemente estudadas cientificamente, tem sido guilhotinas, para se saber as devidas causas. O seu lugar foi ocupado pelo liberalismo que se esperava, pois a realidade é que este primeiro tempo de um milénio que se augurava promissor transformou-se num mundo onde a globalização (antes chamada de imperialismo), a selvajaria de novos métodos de velhos sistemas económicas, levaram à descrença a maior parte da população mundial que entusiasmadamente aplaudiu a mudança.
No campo da tecnologia houve avanços significativos e as pessoas passaram a estar mais próximas para saberem mais dos outros, com uma cada vez maior desigualdade na distribuição da riqueza. Este século, e esta crescente sociedade da informação, dá a possibilidade das pessoas saberem que trabalham arduamente, mas o seu magro salário, ou a dignidade da sua vida, é concebida pelos ditames de uns números que giram a grande velocidade numa Wall Street (uma rua em Nova York do tamanho da R. dos Mercadores), de um Nikei em Tókio ou um Dax em Frankfurt, onde muitos milhares de pessoas enxameiam espaços a vender e a comprar papéis de coisas que outros realmente produzem em circunstâncias social e materialmente degradantes.
Numa década em que os conflitos étnicos, tribais, fronteiriços e religiosos se multiplicaram e desenvolveram com uma violência inimaginável há uns anos, o que assistimos é a derrota dos que apregoavam que os países do leste europeu eram a cabeça da hidra do “Eixo do Mal”. A realidade é que a desagregação da ex-URSS mostrou as fragilidades da sua economia, e a sua inépcia em preservar o ambiente, mas também mostrou um sistema que deu quadros mais capacitados e desenvoltos, mesmo para competirem nos mercados tecnologicamente exigentes do centro da Europa, para dar um pequeno exemplo.
A Liberdade é um valor sagrado em qualquer modelo de sociedade, mas a realidade é que com a falta de discussão ideológica em torno da posse dos meios de produção, do lucro e do seu uso, e dos direitos dos cidadãos, permite que as religiões monoteístas, e as poderosas instituições que as regulam hierárquica e economicamente, tentem ocupar esse lugar não olhando a meios, e nalguns casos usando torpes razões para fazer valer a sua implantação no terreno.
Iniciámos o milénio com o aparecimento de potências emergentes, mas simultaneamente, os dados dos organismos das Nações Unidas dão 900.000.000 de pessoas a sobreviverem na indigência e na pobreza extrema.
Conceitos de solidariedade, de desenvolvimento sustentado, de remuneração justa, de trabalho digno, de combate continuado à doença e um acesso à educação, são “retóricas” que já nem no domínio do léxico político se conseguem vislumbrar.
Tudo hoje é mais rápido, porque há redes sociais, computadores, meios de transporte mais velozes e cómodos, antenas parabólicas, radares, telemóveis, uma miríade de coisas que apareceram neste milénio e que vão transformando quem ainda “valoriza outras coisas” em verdadeiros “botas-de-elástico”.
Esta deve ser a minha crónica de despedida do ano de 2013 e, infelizmente, acho que se mudar alguma coisa vai ser para ficar tudo na mesma. Para muitos só desejo que o ano que aí vem seja melhor que o que está prestes a findar. Para poucos que seja muito pior, o que só poderá ser um bom sinal. Sou um pessimista, mas salvaguardo que um pessimista é um otimista com experiência!
Por: Fernando Pereira