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ASTA estreia Cruciform Theatre em Outubro

Novo modelo de teatro será apresentado com a peça “A Balada do Velho Marinheiro”

«Um teatro fora do tempo». É assim o Cruciform Theatre, o projecto que a Associação de Teatro e Outras Artes (ASTA) está a abraçar em parceria com o Instituut Voor Sheppende Ontwikkeling – The Troupe for Theatre Research (Bélgica) e a companhia profissional Medea_73, de Espanha. O projecto, que assenta num novo modelo e numa forma diferente de ver teatro, será estreado a 15 de Outubro com a representação da peça “A Balada do Velho Marinheiro”, de Ruth Mandel, a partir do conto homónimo de S.T. Coleridge.

A peça promete «abalar a estrutura convencional do edifício de teatro», salienta Sérgio Novo, actor e membro da ASTA. A «quarta parede teatral» deixa de existir neste modelo, visto que toda a acção se desenrola dentro de uma estrutura em forma de cruz simétrica, trazida de propósito de Antuérpia (Bélgica). Nas suas extremidades estão os lugares destinados aos espectadores, designados por “ships” (navios), visto que a sua imagem se assemelha à proa de um navio. Cada “ship” terá capacidade para seis espectadores, o que perfaz um total de 24 pessoas por sessão. O palco não se limita ao centro e alarga-se a todo o espaço, acabando por ser o espectador quem vai criar uma interacção com os actores. É que neste modelo de teatro cada espectador tem uma visão diferente do que se passa: o que é visto por uma pessoa, como a entrada do actor em cena, será visto por outra como a saída desse intérprete. Outros terão uma visão completamente diferente desse movimento ou nem sequer verão esse actor. Assim, o público assume o papel de assistir e fazer parte da peça, visto que terá a tarefa de ligar momento a momento toda a acção.

Cruciform Theatre é por isso mais do que uma inovação arquitectónica dos espaços teatrais. Prima, acima de tudo, a relação entre os espectadores com o processo de representação, proporcionando igualmente uma experiência estética, social e pessoal única e intransmissível em cada espectador.

A peça, centrada na história de um velho marinheiro que assiste por coincidência a um casamento, está a ser encenada por Harvey Grossmann, o criador deste conceito e um seguidor das ideias e teorias de Gordon Craig (fundador de uma visão futurista de teatro), e Ruth Mandel, a quem coube a coordenação do texto, da música e dos movimentos dos actores. A eles juntam-se sete actores de Portugal, Peru, Argentina e Venezuela. Mas apesar das diferentes origens, o texto será dito em português. Harvey Grossmann e Ruth Mandel trabalham em conjunto há vários anos. Fundaram o Instituut Voor Sheppende Ontwikkeling e têm divulgado o conceito de Cruciform Theatre por diversos países. «Tem sido o meu princípio de vida e o trabalho que tenho feito desde sempre no teatro», refere Harvey Grossmann. Aluno de Gordon Craig, empenhou-se desde sempre em continuar as suas ideias revolucionárias, nomeadamente o desenvolvimento de um tipo de teatro «em que há mais para ver para além da visão». Em Portugal, criaram “A Visão dos Lusíadas” para a Expo’98 e encenaram com o TeatrUBI as peças “Hamlet” e “A Viagem Começou”. A “Balada do Velho Marinheiro” estará em cena até 24 de Outubro, em três sessões por dia, na antiga fábrica da Beiralã, na Covilhã.

Liliana Correia

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