Arquivo

Assim, Noé apenas teria precisado de uma arca congeladora

Faz programas televisivos de manhã e ao fim de semana à noite. Nunca simpatizei com a figura do homem, o mesmo não posso dizer da sublime coapresentadora. A ele sempre o achei uma invenção, deslocado no estilo e no contexto. Haverá quem goste!

Relativamente ao estilo pós-moderno, reconheço-lhe a virtude da escolha dos casacos. Lindíssimos sem dúvida, mas pouco adequados para a função. Nos programas da manhã, usa-os na apresentação de receitas de migas de bacalhau ou para falar sobre reprodução medicamente assistida.

Quanto às migas… com mais ou menos azeite pouco mal farão à sociedade ou ao casaco do Manuel, já quanto à reprodução humana parece-me no mínimo discutível que o assunto se possa tratar no mesmo ambiente em que o Manuel para o tema para vender comprimidos de cálcio que jovens e idosos possam tomar às dúzias bastando para isso ligar o número de telefone (único local de venda dos frascos de comprimidos) e, caso comprem, pelo menos, duas unidades, o Manuel oferece um livro de receitas naturais e uma Bíblia.

Mas voltando à reprodução humana medicamente assistida, a arena do debate, é constituída em estúdio por experts e deputados, uns contra e outros a favor. À volta o Manuel dispôs em bancada anfiteatral um conjunto de mães solteiras, mães casadas, algumas crianças e homens que pela aparência estão ali para evoluir de erectus a sapiens, mas que possivelmente pela abordagem do tema, no final sairão ainda mais erectus e menos sapiens!

Defende-se a determinada altura entre a fluência técnica dos experts e os berros dos deputados, que a Lei, deve permitir a reprodução medicamente assistida a mulheres, independentemente da intervenção direta de um progenitor. O argumento é que há muitos progenitores que não têm qualidades suficientes para ser pais e não há lei que os impeça de o serem… Por isso… é defensável que as mães tomem conta do assunto e possam substituí-los por uma seringa na conceção!

Cada um pense como quer, o discutível e inaceitável para mim é que cada um faça como quer! Eu não estou preparado para formar opinião sobre o assunto, limito-me a dizer que a utilização de marketing em temas destes em pessoas simples em estúdio ou em frente aos televisores, pessoas habituadas ao pensamento simples derivado da função natural da procriação ficam completamente confusas perante a elegância de argumentos técnicos e a empolgância dos argumentos políticos. É natural que estes milhões de portugueses amanhã sejam chamados a referendar a possibilidade da reprodução medicamente assistida sem critério em pé de igualdade com a reprodução natural, pelos vistos também pouco criteriosa relativamente à seleção dos progenitores.

Em qualquer dos casos quero lembrar apenas isto… Numa ou noutra situação, será sempre da mulher a capacidade de decisão do progenitor que quer e das qualidades que lhe exige para o ser. Pode escolher entre um homem e uma seringa, também daqui não virá muito mal ao mundo, de uma ou outra forma manter-se-á a função fisiológica do orgasmo masculino antecedendo a plenitude da mulher ou da seringa.

O que me assusta é a negação da relação. O que me assusta é a negação do amor. O que me assusta é que cada vez mais crianças tenham amanhã que escrever no boletim da matrícula na escola, no campo onde diz filiação… Seringa de 50 ml Lower Look e Maria dos Prazeres e Morais, ou Pipeta Volumétrica Multikit e Adélia Aparecida Sempecado.

Quanto ao nome da criança nem ouso sugerir.

Perdemos o norte na economia, o significado de Abril, a crença nas instituições e agora o bom senso e o direito partilhado e sublime da paternidade.

Entretanto a Lei continua a permitir o casamento entre homossexuais, nunca fui adepto dela, mas perante esta outra da reprodução sem pai, já entendo melhor a primeira!

Valha-nos Deus!

Por: Júlio Salvador

Sobre o autor

Leave a Reply