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As leituras que os candidatos fazem dos resultados no círculo da Guarda

«Era um milagre mantermos o terceiro deputado»

«A coligação ganhou na Guarda e estas eleições legislativas. Mas, apesar da vitória, não foi possível manter o resultado que achávamos o ideal e perfeito, que era repetir três deputados contra apenas um do PS. Acreditei que fosse possível manter o terceiro deputado porque, à medida que fui recebendo os resultados, percebi que em todos os concelhos do distrito – a exceção foi Manteigas, que é o mais pequeno município do distrito – a coligação ganhou e com larga vantagem.

Só que o método de Hondt, que é uma metodologia complexa, não permitiu que a diferença de votos entre as duas forças políticas fosse suficiente para a coligação manter os terceiros deputados. Mas, em termos de percentagem, estamos a falar de 8 a 9 pontos de diferença, o que é muito voto. Neste contexto e nestas circunstâncias mantermos o 3-1 era quase um milagre. O que aconteceu há quatro anos é que foi absolutamente excecional, o normal e previsível era que houvesse uma distribuição de lugares no Parlamento pelo PS e pela coligação em igual número. Aliás, as previsões apontavam para isso desde o início.

Mas, considero que o distrito apostou massivamente na coligação “Portugal à Frente” e penalizou o PS, reconhecendo que alguma alternativa à esquerda passará sempre pelo Bloco de Esquerda e nunca pelo PS. Recordo que esta campanha começou com as sondagens a indicarem o PS à frente da coligação mas houve uma grande reviravolta e o PS, nestas circunstâncias, nesta conjuntura, tinha a obrigação política de ganhar as eleições. Portanto, foi o grande derrotado destas legislativas depois de quatro anos de austeridade».

«A coligação CDU continua a subir»

«Este governo do PSD-CDS concorreu e perdeu a maioria absoluta, isso é muito importante porque eles governaram durante estes quatro anos e infernizaram a vida aos trabalhadores e ao povo. Agora perderam a maioria absoluta e não vão conseguir governar sozinhos.

Por outro lado, salientamos que a coligação CDU continua a subir no distrito, um processo que tem vindo a ser gradual. Subimos em praticamente todos os concelhos, tanto em número de votos como em percentagens. Podíamos pensar que o número de votos pudesse vir a descer devido a fenómenos como a emigração, mas aquilo que temos é uma subida bastante segura, na esmagadora maioria dos municípios. O que salientamos é que a nossa mensagem passou e que os eleitores corresponderam e o governo PSD/CDS perdeu a maioria absoluta, não poderá governar sozinho, necessitará de algum tipo de apoio. A esquerda, a oposição à austeridade, tem uma maioria absoluta na Assembleia da República e a CDU segue o seu caminho de subida, de eleição para eleição.

Fazemos um balanço bastante positivo porque tivemos uma excelente campanha, com os nossos candidatos, com os nossos apoiantes e militantes e os resultados ao nível do distrito são bastante encorajadores. A nossa mensagem chegou a mais gente. Por nós, a luta vai continuar, ou seja as eleições não são o fim e vamos continuar o nosso trabalho em defesa das populações e trabalhadores do distrito e populações em geral».

«O BE foi uma alternativa ao atual PS»

«O Bloco de Esquerda passou da duplicação de votos em relação a 2011. Do ponto de vista da percentagem foi a maior votação de sempre na Guarda, com 7,4 por cento, e é evidente que isso traz uma exigência para o partido, uma vez que quase 6.500 pessoas votaram no Bloco e obviamente viram nesta força política e na nossa candidatura uma alternativa. O BE e a sua estrutura distrital e nacional terão de olhar para estes números e fazer um trabalho sério a nível do distrito de forma a que o BE se possa implementar de uma forma distinta.

Penso que o BE foi uma alternativa ao atual PS, não tenho a mínima dúvida e houve obviamente muitas pessoas que tiveram coragem e decidiram arriscar, porque o PS, pelo menos a nível distrital e nacional, não foi alternativa. Aliás, o povo português, apesar de ter dados mais votos ao PS, e ainda bem que deu, pois o PS subiu e ganhou um deputado na Guarda, mas o que é um facto é que aquelas pessoas que teoricamente votariam no PS não o fizeram. Ficámos muito satisfeitos com os resultados obtidos, quer a nível nacional, quer distrital. Penso que a nossa campanha foi muito difícil, com pouca gente. Fizemos a campanha praticamente sozinhos, mas foi muito digna, com muita dedicação e empenho e ninguém nos ouviu a atacar pessoas de forma deselegante e incorreta. Fomos muito assertivos e as pessoas acabaram por responder positivamente a este nosso trabalho e à nossa maneira de estar.

O que mais nos desagradou na noite eleitoral foi a vitória da coligação porque é incrível, e não conseguimos perceber como é que ao fim de quatro anos de governação, mesmo tendo perdido 4.000 votos, voltam a ganhar as eleições, mesmo que por maioria simples. Uma vitória do PS teria sido, neste contexto, melhor, apesar de nalgumas questões não se distanciar do PSD e do CDS».

«Quem deve estar preocupado com os resultados são os partidos da coligação»

«O objetivo principal da campanha era recuperar o segundo deputado e nessa perspetiva alcançámos o objetivo essencial. Não se podendo falar em vitória, há uma meia vitória ao conseguirmos, perante um adversário que se apresentava desta vez coligado, subir o número de votos e voltar a eleger o segundo deputado. Desse ponto de vista, quem deve estar preocupado com os resultados eleitorais, porque estas eleições são para contar votos, mas essencialmente para eleger deputados, são os dois partidos que estando coligados queriam manter os três deputados e não conseguiram.

O eleitorado do distrito premiou de alguma forma a campanha levada a cabo pelo PS, de proximidade, dirigida às pessoas e às empresas, e penalizou a coligação do PSD com o CDS. Nesse ponto de vista, as eleições foram positivas para o PS e conseguimos passar de um para dois deputados. É evidente que estamos tristes por não ter atingido o objetivo a nível nacional, um governo liderado por António Costa, mas o PS tem razões para acreditar que muito eleitorado regressou ao seu seio e teremos oportunidade de voltar a ser o partido mais votado. Além disso, pela forma como foi tratado o CDS no distrito, estou convencido que não voltará a haver tão cedo coligação na Guarda, pois o CDS foi relegado para suplente.

Quando os dois partidos voltarem ao normal e a concorrerem em separado, o PS emergirá e voltará a ser a maior força política do distrito. Estas eleições eram propícias ao voto de protesto, as pessoas estavam cansadas de tantos cortes, de aumentos de impostos, de tanta perseguição a funcionários públicos e acho que houve muita gente, querendo mudar de política e de governo, não se reviram na candidatura do PS e por isso encontraram refúgio num partido que fez uma campanha simpática, o BE. A líder nacional é uma figura atrativa, conseguiu uma campanha muito bem realizada e, na Guarda, tinha um bom cabeça de lista, ligado ao meio estudantil e por isso conhecia muita gente e tudo isso confluiu no BE ter uma votação muito expressiva».

Carlos Peixoto (“Portugal à Frente”) Luís Luís (CDU) Jorge Mendes (Bloco de Esquerda) Santinho Pacheco (PS)

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