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As indisfarçáveis semelhanças

Crónica Política

PS e PSD entenderam-se quanto ao fundamental e decidiram aprovar o Orçamento de Estado. Estavam, aliás, condenados a isso, tendo em conta que preconizam as mesmas políticas que vão, à vez, pondo em prática e que vão tendo a bênção dos que provocam as crises e delas beneficiam.

Andaram a vender-nos a ideia de que a aprovação do Orçamento era essencial para acalmar os especuladores da finança e fazer descer a taxa de juro sobre a chamada dívida soberana. Curiosamente, os “mercados” reagiram aumentando as taxas e a pressão sobre Estado. Era algo mais que previsível.

Neste contexto de angústia, com notícias diárias que pretendem demonstrar-nos que o país não tem caminho de saída, jornais dão à estampa a notícia de que os quatro maiores bancos privados andam a lucrar quatro milhões de euros por dia. Percebem-se assim melhor os apelos dos banqueiros para que o Orçamento fosse aprovado. Não um Orçamento qualquer, mas este Orçamento. Mais grave é que pressionam para que se aprove na especialidade também o mais rápido. A Casa da Democracia para estes senhores pouco serve. Já reflectiram, a discussão arrastou-se mais nos fazedores de opinião que no espaço por excelência onde deveria ocorrer, a Assembleia da República.

Assistimos agora ao terceiro acto desta ópera bazofia. A outra face da “moeda” que não está no Governo tenta distanciar-se das opções consagradas no documento que viabilizou, criticando-o ferozmente como se não estivessem lá as suas políticas. Afinal, a redução das prestações sociais, dos salários e o aumento da carga fiscal também tem a mão do PSD.

O presidente/candidato, que parece como o pai que quer pôr em ordem os filhos desavindos, vem agora, depois da aprovação, exigir uma justa repartição dos sacrifícios, numa declaração que tem tanto de ridícula como de hipócrita.

É a preparação para o quarto e quinto actos da dita ópera. A reeleição de Cavaco para a presidência da República e o preparar do caminho para eleições legislativas já no primeiro semestre do próximo ano.

Aos pagadores de crises só resta mesmo a resistência, a indignação e a luta. Nada de bom há a esperar da alternância sem alternativa e sem novidade.

É com a consciência dessa realidade que continua a ser preparada a greve geral de 24 de Novembro, que vai somando apoios e adesões por parte das mais diversas estruturas sindicais e grupos de cidadãos. Mas o mais importante é que cada um de nós diga não a estas opções políticas. A adesão à greve geral é também um contributo nesse caminho.

Deixemos de ser contestatários de café, blogues e outros espaços virtuais. Confrontemo-nos com a dura realidade e lutemos por uma efectiva alternativa política. Há alternativas, porém necessitam do seu contributo. Se tem dúvidas das propostas dos comunistas, deixo-lhe o caminho para reflectir sobre as mesmas: http://www.pcp.pt/jornadas-parlamentares-do-pcp-propostas-para-resolucao-dos-problemas-do-pais. O PCP lançou uma campanha “Portugal a produzir” para demonstrar que só com o aumento da produção nacional e defesa do tecido produtivo conseguiremos a nossa independência económica.

Ninguém poderá garantir que o sucesso da greve geral seja suficiente para travar este ataque a quem vive do seu trabalho. Mas uma coisa é certa: sem a resistência dos trabalhadores esta gente levará até ao fim o seu projecto de retrocesso civilizacional.

Aplica-se aqui, que nem uma luva, o tal princípio: quando se luta nem sempre se ganha, quando não se luta perde-se sempre.

Por: Honorato Robalo *

* dirigente da Direcção da Organização Regional da Guarda do PCP

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