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As confissões de Manuel António Pina

Escritor encantou 360 alunos das escolas do 1.º Ciclo do Bonfim, Estação e Lameirinhas

Em três sessões animadas, descontraídas e cheias de histórias, Manuel António Pina encantou os seus pequenos leitores da Guarda na passada sexta-feira. Os privilegiados foram os alunos das escolas do 1º ciclo das Lameirinhas, Estação e Bonfim, que, com alguma traquinice e simplicidade, questionaram o autor de alguns dos livros que já leram e que, em breve, serão tema das próximas aulas.

A curiosidade foi muita e nada escapou aos mais atentos. O que gosta mais de escrever: prosa ou poesia? Quantos livros já escreveu? Quais os livros que foram adaptados a peças de teatro e músicas? Tem filhos? Onde vive?, foram algumas das muitas perguntas vindas da assistência. Manuel António Pina começou por dizer que encontrou nas palavras uma forma de exorcizar os seus medos: «Sempre escrevi desde pequeno todos os meus medos e alegrias, sempre passei isso para a escrita, pois era uma forma de me relacionar comigo mesmo, com o mundo e com as coisas e, quando era miúdo, fiz sempre isso espontaneamente», realçou. Segundo o escritor, esta foi a forma encontrada para «lutar pela sobrevivência», pois acordava muitas vezes com pesadelos. Passada esta fase, Manuel António Pina confessou que não se escreve a pensar em leitores especiais. «Houve uma altura em que pensava que se escrevia para ninguém, escrevia-se pura e simplesmente. Mas agora escrevo para o leitor, porque, só pelo facto de se escrever, isso já implica um leitor», considerou, ressalvando não pensar nunca num público-alvo concreto.

Por isso, estas sessões são «sempre emocionantes», já que o seu leitor ganha forma. «Acabo por descobrir que aquilo que escrevo, às vezes na solidão da casa e da noite, só para mim, tem uma existência própria fora de nós e uma relação com outras pessoas», referiu. Na opinião do antigo jornalista, aquilo que se diz de se ler cada vez menos «não é real», pois a experiência diz-lhe que os mais pequenos «lêem muito mais do que eu quando tinha a idade deles». Reconhece, porém, que «o problema é quando chegam aos 13 anos, aí sim começa-se a perder o hábito da leitura». “Conhecer de perto…” é uma iniciativa que pretende motivar as crianças para a leitura, uma vez que «esta partilha com o autor dá-lhes uma visão diferente e ficam muito mais motivados e encantados com os livros», acredita Mónica Matos, coordenadora das bibliotecas escolares das três escolas envolvidas. A próxima actividade é a Semana da Leitura, que vai decorrer entre 5 e 9 de Março. Manuel António Pina nasceu no Sabugal em 1943. Foi jornalista entre 1971 e 2001 no “Jornal de Notícias”, onde foi editor e chefe de redacção, tendo ainda colaborado em vários órgão de comunicação social. É autor de mais de três dezenas de obras de poesia, crónica, ensaio e literatura infantil e ainda de duas dezenas de peças de teatro. Em 1998 recebeu o Prémio do Centro Português para o Teatro e para a Infância e Juventude (CPTIJ) pelo conjunto da sua obra infanto-juvenil. E, em 2002, recebeu também o Prémio da Crítica, atribuído pela Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários pelo conjunto da sua obra poética. Actualmente, para além de escritor é, também, colunista da revista “Visão” e do “JN”.

Tânia Santos

Sobre o autor

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