Este ano a cidade da Guarda comemora o seu 812º aniversário. Infelizmente, os tempos não estão para comemorações. Portugal atravessa a maior crise desde o 25 de abril, com a bancarrota ali ao virar da esquina. Estamos condenados a empobrecer nos próximos tempos e ninguém vislumbra uma luz ao fundo do túnel. E engana-se quem pensa que temos de aguentar apenas mais dois ou três anos e depois volta tudo ao mesmo. Não volta.
Desculpem lá estes preliminares pouco estimulantes. Queria só destacar a “big picture” antes de ir à “focus picture”. E a “focus picture” são as comemorações do 812º aniversário da Guarda.
Lê-se na página web do município que «a Câmara Municipal da Guarda tem por tradição apresentar na altura da efeméride uma obra, este ano a Guarda será enriquecida com o Centro Escolar da Sequeira».
Parece ter havido realmente um esforço em criar uma “tradição”, pois, relembrando os últimos 27 de novembro, a Guarda foi em 2010 “enriquecida” com o Centro Escolar do Vale do Mondego; em 2009 a Torre de Menagem foi “devolvida” à cidade; em 2008 foi inaugurada a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço; em 2007 o Parque Urbano do Rio Diz e em 2006 o jardim-de-infância “O Castelo”.
Confesso que não me lembro das inaugurações dos anos anteriores. Às tantas, esta “tradição” foi inaugurada em 2006 com Joaquim Valente. De qualquer maneira, não é esse o ponto. O ponto é que as obras do 27 de novembro tendem a tornar-se mais modestas.
A tradição já não é o que era. E, como todas as tradições, é natural que esta acabe por desaparecer.
As comemorações do 812º aniversário são apenas mais um reflexo da crise. O tempo das grandes obras acabou. Temos de nos concentrar no essencial e o essencial muitas vezes são coisas mais modestas, como, por exemplo, um centro escolar.
Chegou a hora de acabar com a grande tradição dos últimos anos em Portugal e na Guarda em particular: gastar dinheiro sem nenhuma lógica económica e em coisas que não servem para nada.
Parabéns à Guarda. Não são muitas que se podem gabar de tão grande longevidade.
Por: José Carlos Alexandre