Arquivo

As coisas dos nomes

Observatório de Ornitorrincos

Escrevia a semana passada o meu amigo João Canavilhas, nas páginas do nosso querido jornal – estou a falar do Interior, não do Expresso –, sobre os nomes das obras públicas do concelho da Covilhã. Pois a mim também me incomodam os nomes – mas os das criancinhas que nascem por esse país. Preocupa-me a falta de originalidade dos pais. Beatriz e Inês são bonitos, mas são os nomes de metade das raparigas – pelo menos das que conheço – nascidas em Portugal nos últimos dois anos. Afonso e Miguel, a mesma coisa. Fora disto, é a estrangeirice e as foleiradas. Ora eu, munido da lista de nomes próprios do Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, gostaria de deixar algumas sugestões aos leitores que ainda queiram vir a ter filhos e, mesmo assim, lhes pretendam dar um nome. Pode também servir a todos aqueles que queiram mudar de nome ou iniciar vida de travesti.

Começo pelo óbvio. O meu nome masculino preferido é Gumersindo. Gumersindo tem uma sonoridade vibrante. Se eu me chamasse Gumersindo – a minha mãe ainda hoje não percebe porque lhe viro as costas quando me chama – teria com certeza um azulejo azul enorme à porta de minha casa com os dizeres “Seja bem-vindo à casa do Gumersindo”. Para rapariga, hesito entre a grave Caríbdis e a esdrúxula Porciúncula. Se o primeiro assume uma ligeira conotação tropical como se de uma personagem de Margarida Rebelo Pinto se tratasse, a segunda demonstra uma pujança silábica digna de Agustina.

Mas outras opções se apresentam aos decisores. Um nome é uma coisa para toda a vida e para toda a morte também. Se Abúndio ou Agesilau permitem arrebanhar os lugares da frente nas salas de aula de pequenitos, Ônfale ou Quisíforo conferem uma dignidade superior a qualquer deputado da nação. E que dizer de Adamância ou Mavíldia? Senhoras da alta sociedade implorariam pela sua presença robusta nas festas do jet-set. Arquitectas famosas poderiam ser chamadas Ínsua ou Uziel. E tudo isto para a escolha modernaça de usar apenas um nome para cada rebento. Vejamos também algumas possibilidades fonéticas para conjugações de dois nomes. Calapez Zoé ou Borromeu Zoilo, Aça Xantipa ou Dióscolo Liardo, consoante os sexos dos infantes, são grandes oportunidades de permitir que os seus filhos deixem marcas profundas na História – ou no subconsciente, que para isso há psicanalistas.

Há também nomes mais denotativos como Crescência, Magina ou Putífar que, não sendo aconselháveis em cidades transmontanas que rimem com “pança”, poderiam ser úteis na grande cidade, caso houvesse alguma em Portugal. Não queria terminar sem referir o borgesiano Actório, o beckettiano Estravário, o verniano Heliogábalo, o milleriano Sardanapalo ou a tchekoviana Zúquete. Existe, como se vê, um mundo de soluções, sem ser necessário recorrer a telenovelas ou romances de terceira categoria.

—————————————————————————

EU VI UM ORNITORRINCO

Fernando Santos

Conseguiu perder dois campeonatos no FC Porto, com Jardel na equipa, um contra o Sporting de De Franceschi e Acosta e outro contra os sarrafeiros de Jaime Pacheco. Na Grécia não o aguentaram. No Sporting, consegue perder o segundo lugar, um jogo em casa com uns turcos mal amanhados e ser eliminado da Taça por um clube da II Liga. Esta época cometeu a proeza de perder todos os jogos realmente importantes. É um ornitorrinco e nem sequer disfarça. Este é dos perigosos. A minha sugestão é que o apanhem e o exportem para o lugar do Mourinho ou do Camacho.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

Sobre o autor

Leave a Reply