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«As associações fazem com que os jovens não esqueçam as raízes»

Cara a Cara – Armando Neves

P – Atualmente, qual é o papel da Federação das Associações Juvenis do Distrito da Guarda?

R – A Federação existe desde 1998 e representa institucionalmente as associações do distrito. Promove a união entre elas e divulga as suas atividades. No Festival da Juventude, que se realiza no próximo fim-de-semana em Vila Nova de Foz Côa, vamos ter um stand para fazer essa mesma divulgação. Temos um gabinete de apoio técnico para aconselhamento jurídico, contabilístico e administrativo, um centro de recursos e estas instalações, na Rua 31 de Janeiro, na Guarda, que disponibilizamos para a realização de atividades. Além disso, tentamos participar na definição das políticas da juventude, junto do Instituto Português da Juventude e da Federação Nacional. Promovemos ainda ações de formação, informação e encontros distritais.

P – Que importância pode ter o associativismo na vida dos jovens do interior?

R – Temos discutido bastante o tema do associativismo contribuir, por exemplo, para o futuro profissional dos jovens. Costumamos ter uma frase que diz: associativismo juvenil, escola de cidadania. E efetivamente é assim, nós temos constatado que uma pessoa que pertença a uma associação é – regra geral – um jovem mais bem preparado, que acaba por adquirir um conjunto de valores que são importantes e ao mesmo tempo um conjunto de competências que a própria escola não está vocacionada para transmitir. Esta importância de pertencer a uma associação já está, aliás, a ser reconhecida por muitas empresas nos processos de recrutamento e seleção dos seus funcionários. E fazem também com que os jovens queiram regressar à região e nesse regresso desenvolvam atividades de caráter social.

P – A crise que se vive acaba por afetar as associações juvenis?

R – Nos últimos anos, tem havido maior dificuldade em captar apoios, sobretudo no setor privado. Era importante regulamentar a Lei do Mecenato e isso não tem vindo a ser feito, nem sequer tem sido algo que as empresas vejam com interesse. Mas os cenários de crise evidenciam – ainda mais – que as associações juvenis devem continuar a prosseguir com o seu trabalho, porque esta é uma forma dos jovens se emanciparem, de terem mais tarde acesso à sua habitação própria, de poderem realizar projetos na área do empreendedorismo. E uma associação juvenil tem sempre algo de empreendedor, porque é aqui que se dão os primeiros passos. Estes cenários de crise fazem com que os jovens tenham de ser mais dinâmicos e essa dinâmica fá-los ser mais empreendedores.

P – Nos distritos do interior, a desertificação é cada vez mais visível. Que impacto tem essa realidade nas associações?

R – O fenómeno do despovoamento é algo irreversível. Mesmo assim, temos verificado que o número de associações tem aumentado. No distrito, temos cerca de 80, inscritas no IPJ. Estão ativas mas vivem, claro, com dificuldades, porque às vezes não há ninguém que possa abrir a sede ou porque os jovens estão a estudar fora. Tentamos introduzir aqui o uso das novas tecnologias e temos até promovido reuniões por vídeo-conferência, por exemplo. Além disso, as associações podem mesmo fazer com que os jovens passem a conhecer melhor o sítio onde vivem. Através da sua ação podem dar ênfase ao potencial da região, aos seus produtos endógenos. Veja-se o exemplo da associação de Freixo do Numão, cujos membros descobriram vestígios arqueológicos que hoje atraem turistas. Mesmo que os jovens estejam a estudar fora, podem sempre regressar devido às atividades, é como se tivessem algo que os chama à terra e faz com que não esqueçam as suas raízes. E podem até mesmo trazer colegas, dando-lhes a conhecer a região.

P – Há de facto muitos “dirigentes ausentes” nestas associações. Como vê essa realidade?

R – É uma dicotomia. Mas não vejo esse facto como algo negativo. Percebo que quando os dirigentes se deslocam para estudar é porque vão adquirir mais capacidade e conhecimento. Esse é um motivo de orgulho. Mais de 90 por cento são pessoas que estão em processo de licenciatura ou pós-graduação. É certo que se torna complicado realizar ações durante a semana, mas nas férias tem-se conseguido contornar a questão com diversas atividades desportivas ou culturais.

Armando Neves

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        esqueçam as raízes»

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