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ARRANJO OU PAISAGISMO: Denominação ou conceito?

Sendo esta uma época em que dominam as questões ambientais e se iniciam os preparativos para o “dia do ambiente”, pareceu-me interessante abordar um tema que não passa simplesmente pelo uso de uma terminologia algo pejorativa do trabalho que realizo, mas principalmente por uma visão redutora da sua verdadeira essência.

Assiste-se diariamente ao domínio do rótulo de “arrangista” em contraponto à verdadeira essência dos objectivos e âmbito da arquitectura paisagista.

O termo “arranjos exteriores”, que se consagra não só na gíria popular, mas também ao nível institucional (na documentação normativa e regulamentos) transportam a actividade do paisagista para o campo do “remendar para embelezar”, retirando-lhe sentido prático e científico, pressupondo uma intervenção à posteriori das que são importantes!

Como estudante e agora como profissional, tenho vindo a presenciar contínuos atropelamentos e degradações do património natural, em consequência de um total desrespeito e desinteresse para com a paisagem seja ela de carácter mais urbano, rural, global ou particular.

A fraca cultura ambiental da sociedade reflecte-se em meras intenções publicitárias, com pouco sentido prático da qualidade de vida, distanciando-se de uma visão abrangente que poderia proporcionar acções de verdadeiro impulso dessa mesma qualidade. Pelo contrário, essa reduzida visão colectiva, potencia graves problemas ambientais.

No caso particular da concepção do espaço urbano em contínua mutação e crescimento, assiste-se a uma consequente impermeabilização do solo, o que implica entre outros factores a concentração de gases contaminantes e o aumento das amplitudes térmicas que directa ou indirectamente afectam a saúde física e mental da população.

A prática de “construir cidade” a que assistimos, tem sido realizada sem levar em conta estes e outros impactos que afectam a qualidade ambiental, e sentidos não somente no meio, mas também no conforto e na salubridade da população.

Daí insistir que o desenho dos espaços urbanos deveria estar condicionado e adaptado às características do meio, tais como a topografia, a cobertura do solo, a ecologia, a latitude ou os impactos negativos da massa construída, categorias essas que facilmente passam ao lado e que constituem o instrumento de trabalho do arquitecto paisagista.

Esta falta de consciência do espaço público é tão evidente que me leva a questionar: Que tipo de identidade colectiva nós defendemos, já que é este o espaço que apresentamos como a “imagem da nossa cidade”? Ou ainda, que tipo de “arranjo” poderá solucionar certos problemas não reflectidos na concepção dos mesmos?

Por: Carla Madeira

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