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Área ardida no Inverno no PNSE já é superior à registada no Verão

Época de incêndios pode chegar antecipadamente na Primavera se clima seco continuar

O tempo seco e as temperaturas altas para a época estão na base de um dado sem precedentes no Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). É que neste Inverno já ardeu mais área florestal do que no último Verão, num total superior a 400 hectares contra os 310 registados na época de incêndios de 2004. Um único fogo, ocorrido no início de Janeiro na zona de Gouveia, terá sido responsável por este novo recorde da área protegida, que no ano passado teve a menor área ardida de sempre. Mas os responsáveis do parque já receiam o pior a manterem-se as condições meteorológicas dos últimos meses.

Segundo Fernando Matos, director do PNSE, «se não chover durante muito mais tempo, a época de incêndios pode chegar antecipadamente na Primavera, numa altura em que as estruturas ainda não estão em condições de responder eficazmente». A situação de seca tem potenciado vários focos de incêndio nas últimas semanas na área do parque devido sobretudo a queimadas mal controladas ou ao descuido de quem faz piqueniques. O material combustível faz o resto, pois está «extremamente seco e inflamável», adianta aquele responsável, sublinhando que o PNSE está a aumentar a vigilância com mais homens no terreno tendo também solicitado apoio às brigadas de sapadores florestais associadas ao parque na detecção e prevenção destas situações. Por outro lado, o parque vai informar as Juntas de Freguesia para os perigos do tempo seco nas matas e florestas da área protegida e solicitar a colaboração dos párocos na divulgação deste alerta: «Toda a gente deve ser avisada de que determinados comportamentos devem ser evitados neste período ou então devidamente vigiados pelos bombeiros, porque o risco de incêndios aumentou significativamente devido a esta situação climática muito má», garante Fernando Matos. O director do parque admite, por outro, que as queimadas não licenciadas continuam a ser «muito superiores» às licenciadas e defende o aumento «significativo» das multas a aplicar a quem desobedece à lei. «O problema é que é sempre muito difícil apurar responsabilidades nesta matéria e identificar autores», sublinha.

O ano de 2005 começou mal. Um incêndio de grandes proporções consumiu mais de 400 hectares de matas do parque nas proximidades do lugar de Duas Pontes, em Aldeias (Gouveia). Na altura suspeitou-se que a origem do incêndio tivesse a ver com uma queimada, cujos autores não terão conseguido controlar. Um começo pouco auspicioso para o Parque Natural da Serra da Estrela, o maior do país com 110 mil hectares, que tinha registado em 2004 a menor área ardida da sua história. Num balanço divulgado em Outubro constatou-se que o fogo apenas consumiu 310 hectares, um resultado sem paralelo desde a sua criação, em Julho de 1976, e que terá ficado a dever-se ao reforço da vigilância da floresta e às condições atmosféricas favoráveis registadas em Agosto. Recorde-se que entrou em funcionamento no último Verão o tão esperado equipamento de videovigilância, instalado na zona de Manteigas, uma tecnologia que permite a rápida detecção de focos de incêndio, mesmo durante a noite graças a um sistema de infravermelhos, e que funcionou na Serra da Estrela em regime experimental, podendo vir a ser utilizado noutras áreas protegidas do país. O índice de área ardida mais baixo registado até agora no PNSE ocorreu há cerca de 15 anos, quando foram consumidos pelas chamas 500 hectares do parque. Inversamente, o ano mais catastrófico de sempre verificou-se em 2003 com o registo de 5.500 hectares ardidos.

Luis Martins

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