Arquivo

Aquecimento sem consenso

mitocôndrias e quasares

Em muitas áreas da sociedade civil a procura de um consenso, em torno de uma ideia ou de projecto, pode ser muito perigoso. A uniformização de comportamentos, muitas vezes justificada pela necessidade de tomar decisões, inquina o nosso pensamento não o deixando seguir um caminho totalmente livre, ficando o espírito critico diluído neste pensamento unidireccional.

Serve esta ideia de unidade em torno de um pensamento único para mostrar, que é muitas vezes com a ruptura do paradigma vigente, que a sociedade evolui construindo novos caminhos.

Um exemplo recente desta ideia, surgiu quando um grupo de cientistas dinamarqueses e canadianos vieram pôr em causa o conceito de “temperatura média global”. Segundo este grupo de investigadores, este conceito é impossível tanto do ponto de vista matemático, como do ponto de vista termodinâmico.

Ao longo dos últimos anos assistimos, dentro da comunidade científica, a um grande consenso relativamente ao facto de o aquecimento global do planeta ser provocado por causas directamente relacionadas com a actividade humana. Corolário desta ideia foi o relatório lançado pelo Painel Intergovernamental de Alterações Climáticas (IPCC) que afirma, com 90% de certeza, que as alterações climáticas a que assistimos no planeta se devem a factores antropogénicos. Este relatório, assinado por 2500 investigadores de 130 países, afirma que a temperatura média global do planeta subiu 0,7ºC entre 1901 e 2005.

É precisamente neste conceito de temperatura média global que o pensamento universalmente aceite pela comunidade científica foi questionado. O grupo de investigadores multinacional contesta o método de determinação da temperatura média utilizado, no qual a temperatura média do planeta é obtida tomando-se a temperatura do ar medida por inúmeras estações meteorológicas em todo o mundo, atribuindo um peso a cada uma correspondente à área que elas representam. Em seguida é calculada a média desses valores – pelo método tradicional de se somar todos os valores e dividir a soma pela quantidade de pontos de medição.

Para estes cientistas a temperatura só pode ser definida para sistemas homogéneos, algo que à escala local pode ser feito, mas à escala mundial não faz sentido, uma vez que o planeta é constituído por um enorme conjunto de componentes. Por outro lado, o clima não é governado por uma única temperatura. Pelo contrário, são diferenças de temperaturas que dirigem os processos e criam as tempestades, correntes marítimas e trovões que caracterizam o clima.

O conceito de temperatura média global também é contestado matematicamente uma vez que existem vários métodos para se calcular uma média. No relatório do IPCC o cálculo é feito através de uma média aritmética simples. Um exemplo deste cálculo pode ser feito atendendo a dois copos iguais, cheios de água. O primeiro com a água a 0º C e o segundo com a água a 100º C. A temperatura média dos dois será de 50º C.

Mas o resultado será diferente se for utilizado o conceito de média geométrica. Utilizando o mesmo exemplo dos dois copos, os valores das suas temperaturas deverão ser multiplicados e elevados ao quadrado. O cálculo vai resultar em uma temperatura média de 46º C. Apesar de ser uma diferença pequena de 4ºC, é precisamente nesta diferença de magnitude, que se explica a maioria dos processos climáticos da Terra, inclusive os tufões, o El Niño e todas as correntes marítimas.

Este estudo mostra como a capacidade de análise critica, de olhar para um alvo diferente, de avançar por caminhos sinuosos é fundamental para o avanço das sociedades.

Por: António Costa

Sobre o autor

Leave a Reply