A Beirartesanato – Mostra de Actividades Económicas não se vai realizar este ano por «falta de condições, nomeadamente financeiras», explicou na última sexta-feira aos jornalistas o presidente do NERGA, à margem da conferência de imprensa sobre o 3º Concurso de Vinhos da Beira Interior. Sem falar em valores, Pedro Tavares revelou que «as duas últimas edições ainda não estão pagas por quem as apoiou», referindo-se à Pro-Raia – Associação de Desenvolvimento Integrado da Raia Centro-Norte, que foi a entidade que candidatou o evento a financiamentos comunitários.
Ao que o INTERIOR apurou, o total da verba em causa ascende a 74 mil euros – o financiamento candidatado pela Pró-Raia em 2008 e 2009 e que já terá sido cobrado pela associação de desenvolvimento, mas que ainda não foi liquidado ao NERGA. As comparticipações previstas pela Pro-Raia, associação que actualmente é presidida pela Câmara da Guarda, estariam asseguradas por fundos comunitários, na sequência de duas candidaturas que terão merecido aprovação. Do total do montante em causa, 44 mil são relativos à edição do ano passado – que custou 60 mil no total –, sendo o restante referente a parte da candidatura de 2008. «Apesar de não termos recebido o dinheiro, pagámos aos fornecedores das duas edições em tempo útil», garante Pedro Tavares. Para o responsável, «este tipo de situações são complicadas»: «Não podemos colocar em risco a própria associação por causa da Beirartesanato. Temos de ter alguma disciplina financeira», explicou. A direcção da associação ainda tentou encontrar uma solução nomeadamente junto da Câmara da Guarda, tendo reunido com a vereadora Elsa Fernandes, no sentido de tentar realizar este ano aquela que seria a 20ª edição do evento: «Foi-nos lançado o repto de fazer a Beirartesanato em simultâneo com as Festas da Cidade. Mas concluímos que não havia condições pois não era possível termos patrocinadores» visto que as Festas da Cidade já tinham assegurado os apoios e «não tínhamos margem, nem tempo para conseguir atrair outros patrocínios», contou o dirigente associativo, que afirmou que o NERGA não tem condições para suportar sozinho os custos da organização.
Segundo as contas do dirigente associativo, seria necessário um apoio de 30 mil euros para avançar com a feira. Pedro Tavares diz que este «não é o fim da Beirartesanato, mas antes um intervalo», em que o NERGA vai aproveitar para repensar o formato do evento. Em cima da mesa está ainda a possibilidade do certame regressar no próximo ano ou a realização de um evento capaz de juntar várias associações na organização.
A primeira reacção às declarações de Pedro Tavares, por parte da Câmara, surgiu na segunda-feira, depois da reunião do executivo, Elsa Fernandes comentou que «a Pro-Raia tem uma direcção da qual faz parte o NERGA». «Admito que haja pagamentos em falta, mas será uma questão que deve ser resolvida no seio da Pro-Raia», acrescentou, ressalvando que desconhece o processo, até porque é Joaquim Valente que representa a autarquia (e assegura a presidência). «Nunca foi negado qualquer tipo de apoio à organização da Beirartesanato», acrescentou a vereadora, recordando que a autarquia esteve sempre presente a nível logístico. Na passada terça-feira, também Joaquim Valente se pronunciou sobre o assunto, em Assembleia Municipal, explicando que «a Pro-Raia adjudicava ao NERGA a responsabilidade de fazer a feira». Ou seja, a Pro-Raia candidatava a organização da actividade e «em todas as candidaturas, o NERGA foi sempre a entidade executora», esclareceu o autarca. Joaquim Valente deixou ainda críticas ao formato da feira: «De artesanato não sei o que tinha e de regional muito pouco. Havia algum artesanato de origem duvidosa», avaliou o autarca que, assim, deixou no ar a ideia de que não via a Beirartesanato como um evento de interesse concelhio.
