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Antropoceno

A Hora do Planeta comemorou-se a 29 de março. Nessa data era suposto termos desligado as lâmpadas durante uma hora. No entanto, sempre fui contra a comemoração de datas como os dias do Pai, da Mãe, dos namorados, dias para todos os gostos e feitios, alguns com o único intuito de agitar o comércio. Se o Natal deve ser todos os dias, como se sói dizer, a hora do Planeta também o deveria ser.

Vem esta entrada, a pés juntos, a propósito da comemoração da Hora do Planeta. Parece-me que a devemos comemorar a todas as horas, com atitudes que nos permitam reduzir a pegada ecológica para valores aceitáveis à escala de um país em vias de desenvolvimento, como é caso do nosso.

Um desenvolvimento sustentável passará sempre pela atitude de cada indivíduo no que respeita à redução do consumo de bens, à reutilização dos recursos e à reciclagem dos desperdícios, os famosos 3 “erres”.

É de bom-tom, para com o planeta e a minha carteira, que eu desligue este computador assim que deixar de o utilizar. Choca-me que muitos atuem de uma forma, quando se encontram perante um edifício público e doutra, nas suas residências, no que diz respeito à poupança de energia, água, consumíveis, etc. A ideia de que a utilização da cousa pública tem custos, apenas, imputáveis a outrem, a essa figura abstrata chamada Estado é, do meu ponto de vista, absurda e errada. Afinal o que é a despesa pública? Para além das óbvias loucuras chamadas PPP´s, esta despesa pública, a da utilização e manutenção dos edifícios do Estado, é também o somatório de cada um dos pequenos pecados que cada um de nós, funcionários públicos e particulares, utilizadores destes espaços, faz. O que poderemos observar então nestes quilómetros quadrados de espaços públicos? Desperdício. Desperdício a rodos, à resma, ao megawatt, ao quilolitro, ao sabor da impunidade ambiental e financeira em que muitos de nós, aí, navegamos, por acharmos que, nestes espaços, os custos não nos são imputados. Mas, na prática, são, como contribuintes que somos.

Estou farto de “pregar no deserto”, farto de ser visto como um tipo estranho que, no espaço público onde labora, anda a desligar computadores, a apagar lâmpadas, a reduzir ao mínimo a quantidade de fotocópias, a reduzir a temperatura dos ares condicionados. Apenas faço por replicar na escola o que faço em casa. Lá, fazemos compostagem e reciclamos o que há a reciclar; reduzo os caudais das torneiras, desligo os aparelhos elétricos na tomada geral, em vez do modo de espera. Nas compras raramente aceito sacos de plástico, prefiro reutilizar; gosto muito de utilizar o velhinho saco de pano para o pão. Estes e outros modi operandi permitem-me e à minha família, ter uma atitude ambiental mais sustentável, porque desenvolvimento sustentável é aquele que permite satisfazer as necessidades do presente sem pôr em causa as necessidades das gerações vindouras.

Dos famosos três erres, o primeiro, o REDUZIR, é, de longe, o mais importante. Reduzir para não reciclar, reduzir para não reutilizar. Por isso, permitam-me que me junte a uma crescente minoria que neste planeta pensa, não na sua Hora, mas na sua mais recente Época geológica, o Antropoceno, que está a decorrer desde o final do século XVIII (Antropoceno: termo usado para descrever a época, a partir da qual as atividades humanas começaram a ter um impacte global significativo e que sucede ao Holoceno). Devemos lutar para que este tempo se prolongue o mais possível e na harmonia desejável, minimizando os impactes ambientais, evitando (ou retardando) o fim abrupto do mais curto período geológico da história da Terra. A acontecer, o fim da humanidade, será o resultado da insanidade e da ganância, mais do que o resultado de qualquer outra catástrofe. E o fim do mundo? Apenas ocorrerá quando o Sol, num último estertor, se transformar numa gigante vermelha, evaporando-lhe os oceanos e o transformar num tórrido deserto venusiano.

Por: José Carlos Lopes

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