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Antiga fábrica da Delphi à venda na Guarda

Instalações com mais de 50 mil metros quadrados, dos quais 20 mil são de área coberta, estão à venda desde a passada quinta-feira

A Delphi pôs à venda as instalações da sua antiga fábrica na Guarda-Gare. Desde a passada quinta-feira que um cartaz de grandes dimensões anuncia a intenção da multinacional norte-americana de cablagens se desfazer de uma área superior a 50 mil metros quadrados, dos quais 20 mil são de área edificada.

O negócio está a ser tratado pela empresa especializada Jones Lang LaSalle, em Lisboa, que a O INTERIOR alegou não estar autorizada pelo proprietário do imóvel a prestar informações sobre a venda. Desconhece-se por isso o valor exigido. O que se sabe é que aquele património mantém a finalidade industrial e também que quatro potenciais interessados contactaram a imobiliária desde quinta-feira. O INTERIOR sabe igualmente que o município foi previamente informado das intenções de venda da unidade e que o presidente Joaquim Valente e o vereador com pelouro das atividades económicas Vítor Santos estão a acompanhar o processo. É último passo para os vestígios da Delphi desaparecerem definitivamente de uma cidade onde laborou cerca de 30 anos e no auge da sua atividade chegou a dar trabalho a mais de 3.000 pessoas. A multinacional de componentes e cablagens para automóveis radicou-se na Guarda em meados da década de 80, em instalações deixadas vagas pelo fecho de uma fábrica da Renault.

Tal como no século passado, procura-se agora um novo inquilino e outra área de negócio para ocupar uma infraestrutura que está fechada desde final de 2010. O declínio do sector das cablagens em Portugal acelerou no início do século XXI, muito por culpa de custos de produção inferiores nos países de Leste, da crescente introdução de aplicações eletrónicas nos automóveis e de uma maior integração e miniaturização dos componentes graças à nanotecnologia. Na Guarda, o “império” Delphi desmoronou-se paulatinamente desde 2007. Nessa altura, os sinais de quebra de produção foram-se acumulando e dezenas de trabalhadores foram forçados a gozar férias. Depois vieram as ações de formação para todos os funcionários da empresa e uma paragem total da fábrica da Guarda-Gare. Em fevereiro de 2008, pela primeira vez na história da unidade, a Delphi suspendeu totalmente o fabrico de componentes durante a semana do Carnaval.

O pior veio a seguir. Após duas vagas de despedimentos de 700 e 500 operários terem sido adiadas devido a novas encomendas deslocalizadas da Roménia, no final de 2009 acabaram mesmo por ficar sem trabalho 500 pessoas. Até maio do ano seguinte foram dispensados mais 286 funcionários, tendo a fábrica fechado definitivamente as portas no final de 2010 com o despedimento dos últimos 321 trabalhadores. Chegou assim o fim do capítulo Guarda do grupo Delphi, que optou por concentrar a sua produção em Castelo Branco – onde, de resto, anunciou recentemente a dispensa de 300 pessoas.

Instalações só para uso industrial

Em 2007, os altos responsáveis portugueses da multinacional tentaram saber da possibilidade de alteração do uso industrial definido no Plano Diretor Municipal da Guarda, cuja alteração está em curso. A ideia era conseguir a sua classificação como área de construção, o que permitiria a sua colocação no mercado imobiliário e garantiria uma valorização substancial dos terrenos. No entanto, tudo não passou das intenções, uma vez que a equipa que está a trabalhar na redefinição do PDM na Câmara da Guarda não chegou a ser confrontada com esta solução. Mas O INTERIOR noticiou na altura que a autarquia não estava disposta a abrir mão daquilo que considera ser um «trunfo» para a viabilidade de um futuro investimento industrial naquela zona, como aconteceu com a saída da Renault na década de 80. Uma posição que se mantém cinco anos depois, já que as instalações só serão vendidas para uso industrial.

Luis Martins Anúncio da imobiliária está há uma semana na unidade da Guarda-Gare

Comentários dos nossos leitores
Nuno Morais nunorolomorais@gmail.com
Comentário:
Partindo do princípio de que depois de todas as recessões vem a retoma, demore o que demorar, deveríamos era estar a pensar no futuro e não no passado. O “largo da estação” é neste momento um dos sítios mais bonitos da cidade e com mais potencial para se reconverter em função de novos desafios urbanos. De certa forma, é um belo horrível porque se sustenta na desertificação do local… Mas quando vierem dias melhores, as indústrias têm terrenos de sobra na Plataforma Logística e até no parque industrial. A área da antiga fábrica Renault/Delphi e toda a faixa de pequenas indústria e armazéns até à rotunda de entrada no Parque Urbano do Rio Diz devia ser objeto de um plano de pormenor que previsse tudo menos indústria. Uma nova área de cidade em fusão com o parque urbano. Cidade com habitação, comércio, serviços, lazer… Ou então não pensemos num futuro para esta cidade e vamos todos para outras paragens!
 

Antiga fábrica da Delphi à venda na Guarda

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