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Ano Eleitoral (II)

Estranhamente, ou não, ainda não se notaram nesta campanha eleitoral as habituais colagens de figuras do desporto aos partidos. De atletas a dirigentes, passando pelos próprios clubes, as colagens, verificadas nas últimas campanhas eleitorais e motivadas decerto por interesses cruzados pontuais (a prova é que festa feita, companhia desfeita), têm primado pela ausência na actualidade. Como explicar este inusitado divórcio entre a política e o desporto? Será que o calendário eleitoral, acelerado e inesperado, não deixou tempo para delinear estratégias ou acertar áreas de comum interesse? Ou será que os intervenientes se deram conta de que em vez de alianças, agora o que está a dar são as anti-alianças? Por um lado é o Governo a pressionar, em cima de eleições, a administração, na cobrança da dívida ao fisco por parte dos clubes. Por outro, são as ameaças de constituição de listas (embora em estilo, agarrem-me, senão eu fujo) de independentes para derrubar o presidente da Câmara do Porto. Clubes e Partidos parecem de costas voltados. Provavelmente, ambos, compreenderam que em tempos de crise (a realização do euro 2004, mais do que alegrias deixou a ideia de que se gastou em demasia em festas), a população não vê com bons olhos a cumplicidade entre os mesmos. E talvez esta seja a razão maior de não termos visto caras conhecidas de desportistas a apoiarem os partidos. Num País em que o desporto se confunde com o futebol, e em que as relações entre ambos não são recomendáveis, é bem provável que a antipatia entre as duas áreas se vá contagiando ao resto do universo desportivo português. Mas tentemos pelo menos investigar um pouco do que são as propostas dos partidos na área do Desporto. Numa passagem rápida, a olho de lince, pelos programas dos diferentes partidos (pelo menos dos que possuem versão on-line dos seus programas eleitorais), constata-se o seguinte: O PS recupera, sem grande excelência, chavões de antigas campanhas, depurando-se por referências expressas ao valor do desporto escolar e ao desporto para todos e deixando em entreaberto a hipótese de Portugal se candidatar a eventos de grande impacto, a exemplo do que aconteceu com o Euro 2004. Pensar-se-á em candidaturas à organização de Jogos Olímpicos? O PSD, por sua vez, quase nos diz o mesmo por outras palavras. O desporto Escolar e o desporto para todos e as possibilidades de candidaturas a grandes eventos lá estão, como as bandeiras maiores de um programa que embora pareça querer apostar mais na iniciativa privada, acaba por pouco concretizar, ficando-se por pequenas referências a desportos como o golfe e o ténis, e às relações possíveis entre desporto e turismo. Mais completo e mais fundamentado parece ser o programa do PCP. O desenvolvimento desportivo é assumido com grande determinação, embora se possa duvidar da exequibilidade do mesmo, face aos custos que as medidas enunciadas suporiam. Resulta assim, da leitura dos três projectos, a sensação de que há ideias pouco claras e pouco definidas sobre as áreas e os sistemas que habitam o desporto português da actualidade, ao mesmo tempo que se evidenciem tendências por mega-projectos, também eles pouco definidos. No fundo, no Desporto, tal como em outras áreas, falta definição.

Por: Fernando Badana

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