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Ano de sonho

Agora Digo Eu

O PSD, na Guarda, está a viver um ano de sonho. O seu ano mirabilis. 2014, está a transformar-se numa espécie de ano criativo possível, depois da prolixa letargia em que caímos. Diz o povo “Quem muda Deus ajuda” e, para influenciar as massas, nada melhor que assumir comportamento audaz, pois esse é mesmo o denominador decisivo de todos os cálculos.

2014, no horóscopo chinês, é dedicado ao cavalo onde a ação é a palavra-chave, o que obriga a planear, realizando atividades, tentando acertar em palpites. A FIT foi indiscutivelmente um êxito demonstrando aos empresários que aqui é possível investir e viver. Criar emprego, riqueza e fixar população. É esse mesmo o busílis de toda a questão. O 10 de Junho projetou a nossa terra, a nossa região, homenageou gente e instituições de prestígio e de respeito, pese embora, na maior parte das vezes, seja necessário perceber a História nos seus verdadeiros parâmetros de reflexão e estudo (eventos, testemunhos e pergaminhos) que determina um conhecimento real e absolutamente necessário e indispensável da realidade.

Ninguém me leva a mal se referir que passadas as comemorações do Dia de Portugal as distinções pudessem ter sido alargadas à Casa da Sagrada Família, numa justíssima homenagem à “irmã” Regina, que prossegue o seu meritório trabalho nas longínquas terras de Timor Lorosae ou ao Centro de Alcoólicos Recuperados ou ainda, correndo o risco de não ser interpretado apenas enquanto cidadão, fazendo jus ao ensinamento de Publio Siro (ninguém pode ser juiz em causa própria) reconhecer o trabalho, empenho e dedicação do Centro Cultural da Guarda, que continua a ser o exemplo do associativismo de gerações, levando a todos os cantos o que de bom se faz nesta terra.

Sem ter de contar aqui a história de Solimão, é bom perceber que Napoleão aparece sempre em Bonaparte, enquanto Stefan Zweig, na sua bíblia para políticos, dedicada à história de José Fouché, escrevia e aconselhava não ser nada positivo ver «o mundo do alto de uma nuvem imperial, em cima de uma torre de marfim e da sumidade do poder, pois aí é conhecido o sorriso dos inferiores e a sua perigosa solicitude. Nada enfraquece mais o artista, o chefe, o homem de ação que o incessante bom êxito segundo a sua vontade e o seu desejo. Os aplausos constantes embrutecem o espírito». A reflexão é uma escola onde se aprende bem. «Torna a amassar e a concentrar a vontade do fraco, torna resoluto o homem indeciso e acrescenta força aquele que já a tinha».

E a (o)posição?

Ao que parece está sem consistência e sem ideias visíveis, limitando-se a votar desconcertadamente as propostas da maioria, assemelhando-se a um lamento num qualquer muro de choros e lamentações descrito por Verdi em “Nabucco” (coro dos escravos hebreus): «Oh, minha pátria tão bela e perdida. Oh, lembrança tão cara e fatal. Que nos infundam a força para suportar o sofrimento». E a nostalgia é tanta que faz lembrar a cantiga de Mignon, onde alguns comentadores, oriundos do PS (colaboradores de certa e determinada imprensa, a mesma que está sempre rendida aos holofotes de todos os poderes), mais parecem novos conservadores, apoiando toda uma situação numa notória falta de consistência ideológica, agora completamente baralhada por António Costa, com a colagem de todos os socráticos menores, que esperam ansiosamente a sua hora para regressarem ao poder.

Eça de Queiroz in “O suave milagre e outras páginas”, no conto do Milhafre refere «Meus amigos. A literatura em Portugal está a agonizar: morre burguesmente e insipidamente: nem ao menos tem os efeitos da luz extravagantes de todos os ocasos celestes…Todavia é com verdadeira alegria que me acho neste canto que a política me deixa. Faço deste canto de boa vontade o lugar de espectáculo para assistir às últimas agonias do pensamento em Portugal».

Fazendo minhas as palavras de Eça, também eu vou continuar neste cantinho para assistir a este deslumbrante espetáculo, enquanto alguns «bichos sociais, e não só, se devoram na sombra».

Por: Albino Bárbara

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