Anjo da Guarda

«Até o Anjo é da Guarda» diria Américo Rodrigues citando Alberto Dinis da Fonseca, elevando bem alto a utopia da apropriação da designação pela Guarda. Mas, estranhamente, aquilo que sempre pareceu uma evidência tardou em ser abraçado, assumido e aproveitado. O Anjo da Guarda na Guarda tem de ser muito mais do que uma alegoria, tem de ser uma chave, um postal, uma realidade…

Há mais de uma dúzia de anos disse isso a Maria do Carmo Borges, então entusiasmada com um G, que podia ser de Guimarães, de Gondomar ou da Guarda, e que devia antes entusiasmar-se com o Anjo da Guarda, como marca distinta, do imaginário das crianças que oram pelo «meu anjo-da-guarda» ou dos adultos que compram souvenirs enquanto viajam. Com o Pedro Figueiredo, então um iniciante nas artes escultóricas, sugerimos o óbvio: que o anjo é da Guarda e a Guarda devia orgulhosamente dar-lhe guarida e exibi-lo ao mundo. Já então o “Pê” rabiscava anjos, da Guarda, e já então sonhava com o dia em que a sua Guarda teria o seu Anjo. Há um ano conversámos de novo sobre o assunto. Entrevistámo-lo. E assumiu publicamente o desejo de poder fazer uma grande obra escultórica para a Guarda. Felizmente, o atual executivo municipal ouviu a mensagem e abraçou a ideia. A cidade da Guarda cumpre o 816º aniversário e comemora com a “inauguração” de uma obra excêntrica e notável numa rotunda na Estação. Podia ser mais acima, no topo da cidade, para que o Anjo pairasse sobre tudo e todos, como há uma dúzia de anos defendemos junto da então presidente da Câmara, mas vai ser na avenida de S. Miguel, a mais movimentada e lenta artéria da cidade. E vai ter réplicas, no hall dos Paços do Concelho e em miniaturas que voarão por todo o lado, porque o Anjo é da Guarda e é universal e, como escreveu Américo Rodrigues, «o anjo da Guarda há-de descer das nuvens e ajudar-nos a perceber que cidade é esta, que queremos à medida dos nossos sonhos», … finalmente.

Luís Baptista-Martins