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Aniversário marcado pelas críticas ao Estado e pela chuva

Bombeiros Voluntários da Guarda comemoraram 128 anos no último domingo

«Tem sido com o voluntariado que o Estado se tem livrado de assumir custos e encargos monstruosos que uma estrutura profissional, com a mesma dimensão, representaria». As comemorações do 128º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses (AHBVE) ficaram marcadas pelo forte ataque que Álvaro Guerreiro, presidente da direcção, teceu ao comportamento do Estado para com os “soldados da paz”. De resto, há pelo menos 21 anos que os bombeiros da Guarda não passavam um aniversário tão “descansado”, sem incêndios e com muita chuva.

Álvaro Guerreiro frisou que, aos 128 anos de existência, «cada vez mais se impõe» que a AHBVE e o seu corpo de bombeiros «se preparem para o futuro». Contudo, o panorama não se apresenta nada animador no entender do presidente da direcção Voluntários da Guarda, que lamenta que o Estado venha «deixando cair para os municípios e Associações Humanitárias, a responsabilidade pela criação e manutenção dos seus corpos de bombeiros», bem como o «pesadíssimo encargo da obtenção dos meios financeiros necessários para a sua acção», realçou. Em contrapartida, o Estado «exige eficiência, competência e profissionalismo nas acções cometidas» pelos bombeiros, criticou, lamentando que persista em Portugal uma situação em que o Estado «quanto às Associações Humanitárias só não se demite de responsabilidades porque, pura e simplesmente, não assume directamente o encargo das mesmas», e caso o fizesse «constituiria um encargo de tal forma, pesado que seria insustentável», garantiu. O presidente da AHBVE, que actualmente apresenta um corpo activo de 150 homens e mulheres, abordou as dificuldades que a instituição passa para «sobreviver sem outras formas de financiamento» que não sejam o apoio anual atribuído pela autarquia, da ordem dos 100 mil euros, e subsídios «avulsos e parciais» atribuídos pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC).

Estado «não tem criado condições aos bombeiros para que se lhes possa exigir mais»

Para Álvaro Guerreiro, esta é uma situação que «importa rever e com urgência, antes mesmo de se começarem a criar novas medidas, impondo maiores exigências aos corpos de bombeiros, para os quais não se pára de transferir responsabilidades sem que, no entanto, se dotem de meios para as executar», advertiu. Da mesma forma, «só se pode exigir a quem se atribui condições para que se lhe exija uma resposta», e, segundo o presidente dos bombeiros da Guarda, o Estado «não tem criado condições aos bombeiros para que se lhes possa exigir mais do que aquilo que fazem», assegurou. Contudo, tudo isto «não será nenhum dramatismo inultrapassável» se forem criados «grupos permanentes e profissionais junto de cada corpo de bombeiros que garantam a primeira intervenção», uma medida já preconizada por anteriores governos, «mas que não passou das intenções» e que «urge aplicar», frisou. Outra situação «intolerável» são as condições dos veículos dos bombeiros, que trabalham com viaturas «desgastadas, muitas delas há anos para lá da sua vida útil, outras reaproveitadas das já colocadas foras de serviço por outros países da Comunidade ou até rebuscadas em parques de salvados das forças armadas ou do património do Estado, sem qualquer condição de resposta», adiantou.

A AHBVE denunciou, em Março, junto do Governo e do SNBPC, a situação de «pré- colapso do nosso parque de viaturas de fogo, dada a sua idade e a falta de meios para a sua reparação». Um ofício que continua sem qualquer resposta, num altura em que, na semana passada, o velho autotanque de 7.500 litros de água «colapsou definitivamente», o que deixa os bombeiros da Guarda sem um meio «importantíssimo» de combate aos incêndios e distribuição de água às populações. Por último, congratulando-se por já disporem do novo quartel, uma «prenda pedida durante tantos e tantos anos», Álvaro Guerreiro lamenta que, passado um ano, ainda continuem à espera por uma visita do ministro da tutela «ou alguém do Governo». Confrontado com este rol de críticas, António Fonseca, coordenador distrital do SNBPC, reconheceu que «é preciso repensar» o modelo de financiamento dos bombeiros. Já Paulo Hortênsio, vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, fez questão de apoiar as palavras de Álvaro Guerreiro, «não a cem, mas a 200 por cento». Antes da sessão solene, o dia começou com uma romagem ao cemitério e uma missa na Sé Catedral, a que se seguiu a bênção de uma ambulância para o serviço pré-hospitalar, oferecida por Isabel Maria Valério.

Ricardo Cordeiro

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