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Angola em Saragoça (V)

Que a visita ao pavilhão de Angola foi um encanto para mim é algo que não carece de reiteração.

Hoje, todavia, vamos descer à terra – bem à terra – em contraste, digamos, com a espiritualidade que enformou o último artigo. Já agora é conveniente dizer que, até no facto de não ter recebido nenhuma herança islâmica, Angola transborda de sorte. Essa religião (?) arábica, que, na sua génese, tem pastores e guerreiros, mostra hodiernamente, no quotidiano, digamos, de que é capaz. E – sem mais detenças – baste lembrar o caso da Nigéria.

…Vamos descer à terra. Opulenta pelos seus recursos petrolíferos e diamantíferos, Angola afirmava-o. Arrolava o conjutno de companhias petrolíferas a actuar no seu território, de entre as quais mencionava a Galp e a Petrogal.

Angola e o leitor vão desculpar-me a crueza, mas a Galp mete-me nojo. Dou – apenas – quatro exemplos. Há década e meia, quando frequentava o Mestrado, costumava atestar na posição de Nelas, cujo horário de abertura estava indicado às 7. De facto a abertura era às 8, como mo declarou, dentre mais, o empregado. Foi um transtorno tremendo para mim. Mas, ao queixar-me aos Serviços Centrais por escrito, não obtive qualquer resposta – e a placa a indicar o horário, anos depois, ainda não tinha sido mudada. Doutra vez decidi atestar em Coimbra, à Casa do Sal. Precisava urgentemente de uma casa de banho – mas o posto de abastecimento não tinha. Foi tremendo para mim ter que aguentar até c. Penacova.

Em Espanha, em Chaharrero (Ávila), há muitos anos, a casa de banho era tão repugnante por imunda, que – sem qualquer exagero – me fez lembrar uma latrina de guerra (o pessoal, diga-se, era de um tocante acolhimento). E em Sant Carles de la Ràpita (à entrada da Catalunha ido do Sul) as casas de banho são também uma incúria. Paro sempre aqui para lavar a auto-vivenda e, com a “pão-de-fôrma”, comprava aqui sempre embalagens de óleo, porque o mesmo produto a 1000 quilómetros de distância do lugar de fabrico, era mais barato três, quatro ou cinco vezes (já não me lembro bem, mas era uma diferença abissal). Ao ter explicado isso ao revendedor amigo, a quem antes o adquiria, ele respondeu-me que o inspector da Galp o informava, após ter-lhe apresentado o facto, disto: «O topo não nos liga importância nenhuma».

Sem me alongar, e repetindo desculpas, tanto a Angola como aos leitores, por mencionar estes factos, a minha intenção é muito simples: faço os mais ardentes votos para que a Galp tenha em Angola uma postura nos antípodas dos exemplos que dei – que não foram exaustivos. A Galp tem que considerar que a Angola é devido, da parte dos portugueses e de Portugal – e, de algum modo, a petrolífera é, também, uma embaixadora –, é devido, dizia, o máximo de deferência.

Deferência pelo espírito que nos une: o espírito do sangue que, diuturnamente, se cruzou entre nós e os angolanos das mais diversas regiões e condições; o espírito do tempo – multi-secular! – há que contactamos; o espírito do perdão pelas violências e extorsões do colonialismo; o espírito do afecto tão inerente ao nosso comum idioma; o espírito de gratidão pela riqueza que Angola continua a representar, bem patente no facto de que, neste momento, está na moda, digamos, os lusos emigrarem para lá e ser ocioso falar dos investimentos das empresas portuguesas.

Tendo como timoneiro, digamos, um homem que se converteu ao Catolicismo – nunca é demais lembrá-lo – Angola apagará, por sua vez, todo o ressentimento para com Portugal. Aí está a sua sólida – única – garantia de futuro.

Guarda, 7 – XII – 2008

Por: J. A. Alves Ambrósio

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