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Anexas de Vila Fernando sem abastecimento de água nem saneamento

Só Aldeia de Santa Madalena tem os dois serviços básicos. Monte Carreto, Vila Mendo, Quinta do Meio e Quinta de Baixo não têm nenhum e a Quinta de Cima não tem esgotos.

«Queríamos ter essas regalias, não tanto por nós, mas pelos que possam vir no dia de amanhã», refere Priscília Dias, de Monte Carreto, a O INTERIOR. A falta de abastecimento de água da rede pública e de saneamento tem afastado potenciais compradores e novos residentes, que optam por localidades que oferecem os serviços pelos quais esta pequena anexa, da freguesia de Vila Fernando (Guarda), desespera há vários anos.

Os habitantes, cerca de 30, vão-se remediando com furos artesianos e fossas, mas os custos de manutenção exigem um esforço redobrado: «Quando há uma avaria é uma despesa enorme», conta Priscília Dias, para quem «com estes gastos pagava-se a água à Câmara uma vida inteira». São vários os populares que recorrem a quem lhes despeje as fossas, o que representa ainda mais custos, e as avarias são já incontáveis. «Há pouco tempo tive de mudar a bomba do furo e foram mais de 600 euros», lamenta a residente. «O investimento dos furos foi bastante grande», sublinha, salientando que, «como já todos têm furos, talvez os esgotos estejam em primeiro lugar». As entidades têm sido alertadas para o problema, mas «sem verbas não há nada», lamenta. Também Aida Crespo se queixa das avarias e destaca que já teve de mudar a bomba três vezes. «No verão acaba-se a água nalgumas casas porque fizeram poucos metros e o tempo tem sido muito seco», recorda a moradora.

As queixas são idênticas na aldeia vizinha de Vila Mendo, que tem o dobro da população. «Prometeram que, em 2000, já tínhamos esgotos, estamos quase em 2014», constata Carlos Soares, que não aceita a crise como justificação para o adiamento: «Há 10 anos os tempos eram bons e também não o fizeram», recorda. Todos têm água em casa – à conta de furos ou poços – e recorrem com regularidade ao chafariz, onde se abastecem pessoas de vários pontos do concelho. «Tenho o furo artesiano mas só para tomar banho e lavar a loiça, nem é preciso analisar para saber que aquela água não é própria para consumo», adianta Carlos Soares, contando casos em que os líquidos dos furos e das fossas se misturaram. «Ali em cima passa a conduta que vem da Guarda para Vila Fernando e nós não somos servidos», critica o morador.

Problema sem fim à vista

Por sua vez, na Quinta do Meio também há água da rede pública, mas sem ligação às casas da aldeia, que conta com quase 40 moradores. «Não está a funcionar, mas há 10 anos ou mais que abriram isto», lembra Sílvio Alçada. Os residentes recorrem a furos, poços, fossas ou despejos para quintais, mas são várias as casas abandonadas devido à ausência destes serviços. Já o chafariz da aldeia não tem sido usado como era hábito: «A água era boa mas esteve quase um ano sem correr e agora as pessoas têm medo porque ainda não foi analisada», afirma o morador. Há quem consuma a água do furo, mas é frequente deslocarem-se à sede de freguesia para a comprarem.

Na Quinta de Baixo as críticas repetem-se. «Quantos presidentes já estiveram na Câmara e nós a pedirmos isto… Fizeram promessas mas até agora nada», reprova Eduardo Crespo. Ali há cerca de 30 habitações, mas a água da rede pública só passa até ao chafariz, pois «não veio autorização para se ligar às casas», conta. As soluções são as mesmas das restantes aldeias, assim como as perspetivas. «Não há nada por enquanto, vamo-nos desenrascando», sublinha Eduardo Crespo, acrescentando que «a água do chafariz vem da barragem e os SMAS verificam-na de vez em quando». Já na Quinta de Cima há abastecimento de água, mas falta o saneamento. «Os esgotos são uma necessidade urgente», confirma Alice Marques. A aldeia, que tem cerca de 60 moradores, continua à espera depois de várias promessas, mas, «com as dificuldades em que estamos, não é muito fácil», sublinha a residente. «É tudo à base de fossas ou despejos para a rua», indica. Contactado por O INTERIOR, o presidente da Junta de Vila Fernando considera que esta situação «é impensável em pleno século XXI», destacando que «na zona ascendente do concelho, em particular, há anexas de freguesias sem água nem saneamento, correndo riscos que se viviam nos anos 60 ou 80. O inusitado é que foi feito um investimento em “alta”, para puxar e recolher a “baixa”, que é o que falta nas anexas de Vila Fernando», declara Bruno Pina, reiterando que «as estações-elevatórias estão prontíssimas para receber mas a Câmara não tem capacidade para fazer ligação».

Em causa está também a saúde pública: «Quem limpa as fossas não tem formação nenhuma», destaca o autarca, que não sabe «qual a sensibilidade do novo executivo para o problema, pois ainda não tivemos uma reunião». O presidente da Junta recorda que o anterior executivo fez uma candidatura que não foi avante, pois «entrou a “troika”, ou eles não tinham fundos para pagar a comparticipação nacional».

Sara Quelhas Populares reclamam serviços prometidos há muito (na foto: Monte Carreto) Vila Mendo Quinta do Meio Quinta de Baixo

Comentários dos nossos leitores
Carlos carlos_10_martins@hotmail.com
Comentário:
Boa noite. Este artigo tem pouca investigação por parte de quem o criou, na Aldeia de Santa Madalena só existe um desses serviços que é a agua.O saneamento não existe.
 
Costa costrololo@hotmail.com
Comentário:
Andou-se a fazer jardins escondidos, rotunda e muros desnecessários e ficou por fazer o essencial.
 
Carlos Moreira c_m_moreira@sapo.pt
Comentário:
Convém referir que na Aldeia de Santa Madalena a água vem da Ribeira e nem sempre nas melhores condições para consumo.
 

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