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Andar por aí…

Editorial

1. Todos os meses há um acidente nos caminhos-de-ferro portugueses. Todos os meses há um incidente na Linha da Beira Alta. Todos os dias há comboios atrasados e viajantes que chegam tarde ao seu destino… Todos os dias nos deparamos com uma das mais velhas sinas do transporte em Portugal: os comboios chegam sempre atrasados! Talvez já não sejam todos, mas poucas são as locomotivas confiáveis; talvez na Linha do Norte não haja tantos atrasos ou sustos, mas na Linha da Beira Alta, a que nos liga à Europa, que no século XIX nasceu para nos aproximar dos europeus e permitiu que as elites fossem a Paris beber um pouco de cultura e de mundo, todos os meses têm uma rutura, um desdobramento por autocarro, uma linha em obras, uma avaria, um acidente… Bem podemos alegrar-nos com as obras na Linha da Beira Baixa e o ansiado regresso dos comboios entre a Guarda e a Covilhã, que entretanto a realidade é muito negra para o transporte ferroviário, em especial na Linha da Beira Alta – e não é por ser uma empresa pública, é por prestar um mau serviço público.

2. Esta semana cumpriram-se 50 anos sobre o dia em que os tanques russos entraram pela então Checoslováquia para esmagar a “Primavera de Praga”. Uma “Primavera” que pretendia instalar a democracia e levou a liberdade e a liberdade de expressão àquele país – Dubcek pôs em marcha uma série de reformas democráticas, a que chamou de «socialismo com rosto humano». O comunismo soviético não o permitiu e as tropas do Pacto de Varsóvia ocuparam o país e esmagaram a “Primavera”.

A Checoslováquia já não existe (deu lugar à República Checa e à Eslováquia em 1993, depois da queda da URSS), como não existe a União Soviética ou sequer o Pacto de Varsóvia, mas o regresso da influencia de Moscovo sobre alguns estados da Europa central volta a ser uma das grandes preocupações de todos os que recordam a forma como a experiência democrática mais relevante do bloco comunista foi arrasada pela força dos tanques russos. Relembrar os 50 anos sobre a tomada de Praga pelos militares da antiga URSS é recordar um momento negro na Europa e, fundamentalmente, recuperar a história de um dos muitos momentos de nepotismo ditatorial comunista.

3. No regresso da “silly season”, a reorganização administrativa de 2013 vai ser discutida e deverá fazer regressar freguesias que o governo de Passos Coelho extinguiu. Há quem defenda o regresso puro e simples do anterior mapa administrativo (por exemplo o Bloco de Esquerda, que defende a reversão integral da reforma de 2013), mas isso não faz qualquer sentido, pois muitas das freguesias acabaram de morte natural: já não tinham pessoas que justificassem a sua permanência e a sua manutenção era artificial. Porém, a eliminação de outras foi mais um contributo para a desertificação do espaço rural e a sua função faz falta a uma população tantas vezes abandonada. No distrito da Guarda foram extintas 94 freguesias em 2013. Se o fim de algumas era natural, outras, por agregação ou anexadas, fazem falta às pessoas que ainda resistem nas suas aldeias e deveriam agora regressar. Na cidade da Guarda as três freguesias urbanas (S. Vicente, Sé e S. Miguel) foram agregadas e passou a haver apenas uma. Na verdade, o cidadão tem dificuldade em perceber o que é da responsabilidade da Câmara e o que faz a Junta, mas faz sentido lançar o debate na cidade sobre a possibilidade ou necessidade de fazer regressar as três freguesias urbanas, nomeadamente a de S. Miguel, pois, os residentes, da zona da Estação, sentem-se «abandonados» pela “freguesia da cidade”.

4. A invenção de um novo partido por Santana Lopes não surpreende e é o maior golpe contra o PSD. O Aliança nasce por vingança de quem há meses perdeu as eleições e disse no congresso de eleição de Rui Rio que iria ajudar a «unir o partido». Poucos meses depois, dá um golpe na liderança e no partido. Se nas próximas legislativas eleger deputados será a muleta do PS e vingar-se-á da forma mais ignóbil do “seu” PPD-PSD. Falta saber quem vai estar com o novo partido, nomeadamente quais são os militantes na região que irão apoiar Santana Lopes. E agora poderão abandonar o PSD para entrarem em mais esta aventura de um político com jeito para fazer parangonas, mas que nunca foi levado a sério pela maioria dos portugueses. Ele pode continuar a andar por aí, mas não acrescenta nada de novo à política, é um homem do sistema.

Luis Baptista-Martins

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