«Andamos a brincar aos futebóis na Guarda»

Campeão distrital em 2000/2001, a que se seguiram duas épocas no Nacional da IIIª Divisão, o Mileu-Guarda Sport Clube vive actualmente uma das fases mais negras da sua história com a despromoção à IIª Distrital. Também o futebol da Guarda, que, após ter tido quatro equipas séniores em competição esta temporada, ficou sem qualquer representante no escalão principal do “desporto-rei” distrital com a descida do NDS.

O facto de dois dos três clubes que “caíram” para a IIª Divisão serem da capital de distrito só veio confirmar a “teoria” saída de um debate realizado recentemente, onde foi dito que a Guarda parece ter clubes a mais, sem que nenhum consiga ser «uma referência». Adelino Guerra, que esta época treinou o Mileu, lamenta a situação: «Haver muitos clubes na cidade só faz com que se repartam os poucos bons jogadores por muitas equipas. Andamos todos a brincar aos futebóis e a fazer equipas de “remendos”», critica. O experiente técnico queixa-se ainda – entre outros factores, como erros de arbitragem ou lesões – da falta de verbas para arranjar jogadores de outra qualidade. «O Mileu passou de uma fase em que tinha atletas de nomeada no distrito para jogadores que os directores entenderam serem os melhores atendendo às dificuldades económicas», sublinha. Adelino Guerra acrescenta mesmo que «deve ser o único treinador no país e no mundo que andou um ano inteiro a treinar sem guarda-redes», lamentando que tenha sido obrigado a recorrer a um jogador de campo nalguns jogos.

Por outro lado, considera «incrível» o facto do clube não ter juniores, relembrando que nas captações no início da época apareceram «cinco ou seis» atletas e que se tivesse podido socorrer-se desse escalão, «provavelmente, o Mileu não teria descido». Esta é apenas mais uma consequência da cidade ter muitos clubes a competir, garante o técnico, que recorda o tempo em que era jogador, quando «vir jogar à Guarda era quase como um Sporting-Benfica, era um dia de festa». Hoje, «é um dia normal», lamenta, sustentando que no Mileu «o interesse futebolístico caiu para segundo plano». O presidente da colectividade da Póvoa garante que não podia ser de outra forma: «Os clubes andam todos sem dinheiro. As Câmaras dão pouco e o que ficam de dar não o dão nas alturas devidas. Na minha opinião, ou não davam nada a ninguém ou o que prometiam era dado na altura certa», defende Armindo Maia. O dirigente constata também que «há clubes a pagar 300 e 400 euros por mês a jogadores amadores e nós não podemos dar mais de 100 euros e mesmo para isso temos de “fazer das tripas, coração”», critica.

Assim, «“quem não tem cão, caça com gato”», ironiza, para acrescentar que o Mileu «é um clube sério e faz o que pode». O responsável também não entende como é que a Guarda, «uma terra pequena, tem quatro ou cinco equipas. Para quê? Mais valia ter uma na Distrital para lutar pela subida à IIIª», sublinha, adiantando que o seu clube vai disputar a IIª Distrital na próxima época, embora ainda não esteja definido se vai lutar pela subida. Por sua vez, o presidente do NDS, o outro clube da Guarda que foi despromovido, adianta não haver ainda «uma decisão formalmente tomada» sobre a continuidade do futebol sénior na próxima época. Luís Aragão critica mais uma vez o atraso nos apoios da autarquia: «Continuaríamos se houvesse a certeza de que os subsídios da Câmara viriam atempadamente. O problema é que ainda andamos para receber os de 2007 e assim é impossível», lamentou.

No entanto, o dirigente adiantou a O INTERIOR que já decorreram três reuniões com responsáveis dos vários clubes da cidade desde o debate realizado em meados de Abril. «Temos conversado para tentar arranjar uma plataforma de entendimento para minimizar os escalões de algumas equipas, o que não é fácil», refere. Ainda durante esse debate promovido pelo NDS, Vítor Santos, vereador do Desporto na Câmara da Guarda, reconheceu os atrasos nos pagamentos aos clubes do concelho, garantindo que a edilidade «não tem disponibilidade financeira para, neste momento, ter tudo em dia», mas que pagará «à medida das suas possibilidades».