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Ambientalistas contestam traçados dos IC’s 6, 7 e 37

Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela denuncia «graves irregularidades» no processo de decisão

A Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela (PDSSE) não está nada satisfeita com os traçados escolhidos pelo Governo para a construção dos Itinerários Complementares (IC) 6, 7 e 37. Esta estrutura, que integra associações como os Amigos da Serra da Estrela (ASE), requer a «anulação» do processo relativo à Avaliação Ambiental Estratégica do Plano Rodoviário Nacional na Região Centro Interior.

De acordo com Rómulo Machado, vice-presidente da ASE, a escolha do traçado para a travessia da Serra da Estrela «não aproveita qualquer troço da actual ligação (EN230/231) obrigando à construção de uma estrada totalmente nova». Esta via entrará no Parque Natural «numa zona de articulação com a Serra do Açor», o que, em sua opinião, vai criar «um enorme efeito de barreira entre as duas serras e degradando irremediavelmente os vales dos rios Alva e Alvoco, de alto valor natural e paisagístico». Por outro lado, vai provocar a «diminuição significativa da qualidade de vida» das populações da área atravessada, criando uma «cicatriz imensa na parte Sul da Serra». No que toca à ligação a Nelas e Viseu, a opção pelo cenário C nesta parte da rede é considerada «absolutamente desastrosa do ponto de vista ambiental, económico, social e até de conectividade rodoviária».

Segundo a Plataforma, este traçado «descentra o eixo Gouveia-Seia-Oliveira do Hospital, marginalizando completamente Gouveia», ao mesmo tempo que afastará «significativamente o acesso de Seia». Já na ligação Catraia dos Poços-Celorico da Beira/Fornos de Algodres o cenário escolhido, «em vez de aproveitar a actual EN17, cria uma nova via paralela a esta, poucos quilómetros a Noroeste da mesma, destruindo milhares de hectares de floresta e terrenos agrícolas». Esta opção afectará ainda «áreas significativas de produção de vinhos do Dão (especialmente na zona de Pinhanços) e Zonas de Intervenção Florestal». Algo que, para a Plataforma, poderia ser «totalmente evitado caso se utilizasse apenas o corredor já existente da Nacional, introduzindo-lhe melhorias, como corte de curvas e terceiras vias de ultrapassagem» onde é possível.

Os ambientalistas argumentam ainda que a beneficiação da EN17 «torna desnecessário e um inadmissível desperdício de dinheiros públicos e de solos florestais e agrícolas, a construção de uma terceira estrada de grande circulação entre a EN17 e a auto-estrada entre Santa Comba Dão e Nelas, paralelas e com intervalos de meia dúzia de quilómetros entre elas». A Plataforma denuncia a existência de «graves irregularidades» no processo de decisão que sustenta a opção pelo cenário C, que exclui os túneis e prevê a construção do IC7 (Seia/Celorico da Beira) na encosta Sul da Serra. É considerado «muito grave que grande parte do relatório final e declaração ambiental se baseie em dados falsos, de que são exemplos a afirmação de que a ligação a Viseu no cenário C é a que mais se afasta das áreas protegidas e a alteração das posições assumidas pelas entidades que participaram na consulta pública».

Rómulo Machado garante que se chegou «ao ponto de fazer constar nas fichas de consulta posições totalmente diferentes, nalguns casos opostas, das que foram tomadas pelas entidades participantes». Por isso, a PDSSE pede a «anulação» do processo relativo à Avaliação Ambiental Estratégica do Plano Rodoviário Nacional na Região Centro Interior (IC6, IC7 e IC37), cuja construção deve ser «repensada».

Ricardo Cordeiro

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