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Alusíadas

Extremo Acidental

Das armas e dos barões assinalados em Elvas no Dia de Camões, e também das memórias gloriosas, partia este mote em direcção à Calcutá da minha crónica:

A festa do 10 de Junho /

Já um pouco declinada /

É uma grande palhaçada.

Entretanto, maravilha fatal da nossa idade, os meus advogados e um cavaquista especialista em cancioneiros avisaram-me em fúria grande e sonorosa para evitar prudentemente qualquer afirmação, ainda que em estilo grandíloquo e corrente, que inclua metáforas ou metonímias envolvendo palhaços e presidentes, por três ordens de razões jurídicas, que é justa a justa lei:

Primeiro, porque posso ser acusado de plágio por metade do país;

Segundo, porque posso ser processado por difamação pelos palhaços profissionais;

Terceiro, porque o vilancete está fora de moda há quinhentos anos.

Deixarei portanto em versos esquecidos as glosas respeitantes a este dia que já comemorou a raça, depois apenas o país, e agora celebra também o lírico zarolho e os emigrantes – e se mais mundo houvera, lá comemorara.

Não se contenta a gente portuguesa com textos sem conteúdo, e por tal razão, se a tanto me ajudar engenho e arte, vereis como os sublimes reizinhos – desde o fundo lá do Soares, por Sócrates nunca de antes governados, passaram ainda além do Santana, por Coelho e Gaspar esforçados – falam de si como um novo exemplo de amor dos pátrios feitos valorosos, mas que por obra dos outros andamos perdidos, de fomes, de tormentas quebrantados.

Que onde a gente põe sua esperança é no euromilhões e na internet, essa ilha cheia de ninfas com lácteas tetas tremendo sem andar, com quem o amor brinca e tudo se vê.

Com mostras de devida cortesia, desculpas manda o FMI de seus enganos, mas a Comissão, tinha uma volta dado o sol ardente, também nestas palavras lhe mentia.

E assim, do mundo onde morais distintamente, como as aves no ar cantando voam, se pode desta maneira enfim vos ir dizendo: esta é a ditosa pátria minha amada; com uma pluma na gorra, é uma grande palhaçada, já um pouco declinada.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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