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Alunos impugnam eleições

Escrutínio na Secundária da Sé, na Guarda, ensombrado pela distribuição de brindes publicitários

Na quarta-feira da semana passada a Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico da Sé, na Guarda, viveu um acto eleitoral para a Associação de Estudantes muito renhido, no qual participaram cinco listas. No entanto, o sufrágio acabou por ser ensombrado pela distribuição, ou não, de brindes publicitários junto à mesa de voto por parte da lista vencedora. As listas derrotadas não se conformam e querem ir até às últimas instâncias «em nome da democracia», diz Tiago Garcia, candidato pela lista A, que ficou em segundo lugar.

A lista A obteve cerca de 30 por cento dos votos, a B cerca de 34 por cento e a C aproximadamente 29 por cento. Para este jovem candidato, «os incidentes põem em causa valores essenciais e violam as leis do nosso estado democrático», uma vez que a escolha de lista pode ser influenciada a troco de brindes, principalmente nos alunos mais novos. No próprio dia da votação, a lista derrotada elaborou um requerimento para impugnação das eleições, dirigido ao Conselho Executivo daquela escola. A resposta veio na sexta-feira e assentava na improcedência do recurso, concluindo pela validade dos resultados do acto eleitoral. Também Pedro Almeida, candidato da lista C, está insatisfeito. Vai mais longe nas acusações e diz mesmo que «a mesa de voto não quis ver o que se passou, porque era constituída por simpatizantes do agrupamento de Artes», ao qual pertence a presidente da lista vencedora. Apesar das denúncias apresentadas, o Conselho Executivo «nada fez, tendo até agora pactuado com toda a situação», contra-ataca o líder da lista A. «Não podemos ficar indiferentes aos factos», até porque se avizinham eleições de carácter nacional e «não é com exemplos como este que se valoriza o acto eleitoral», compara o cabeça de lista.

Mas a luta destes alunos continua, por isso estão já a elaborar uma exposição para a Secretaria de Estado da Juventude, Centro de Área Educativa da Guarda, Direcção Regional de Educação do Centro e Ministério da Educação. Entretanto, a recém-eleita presidente da Associação de Estudantes, Sílvia Pinto, da lista B, acabou por admitir, em declarações ao “O Interior”, que «podia ter havido distribuição de algum material que sobrou da campanha, mas não foi distribuído junto à mesa de voto». Aliás, numa última reunião com o Conselho Executivo, onde também estiveram representantes de todas as listas, teria sido abordada «a hipótese de entregar, no último dia, algum material de sobra, mas longe das mesas de voto», garante a jovem. Por isso, não acredita que esse facto tenha influenciado a votação e considera que os seus adversários «é que não souberam perder». Com tudo isto, o presidente do Conselho Executivo, Luís Campos, estava amplamente satisfeito. Por um lado, com o número de listas participantes, já que no ano passado houve nenhuma. Por outro, pela participação massiva dos votantes, «730 dos 1.248 alunos da escola», constata o presidente.

Sendo o Conselho Executivo, uma espécie de comissão eleitoral, o professor garante «toda a transparência do acto eleitoral», acrescentando ainda que seria «indiferente que ganhasse a lista A ou C». Porém, Luís Campos defende que as reclamações também são «um bom exercício de cidadania». A escassa diferença de 47 votos entre as duas listas, A e B, «talvez tenha despoletado esta reivindicação», considera, referindo não ter visto material ser distribuído junto das mesas de voto. «Os elementos que estavam na mesa de voto também não, por isso assinaram as actas eleitorais», adianta, considerando que no final disto tudo «quem acabou por ganhar foi a escola.

Pequenos políticos

Há muito tempo que não se viam eleições tão participativas e competitivas para Associação de Estudantes naquela escola. Na sua maioria, os líderes são jovens com convicções profundas. A proximidade das legislativas também não foi alheia a este processo. Por isso, os candidatos organizaram as suas campanhas e durante dois dias inundaram a escola de brindes publicitários e discursos, à semelhança dos partidos políticos. Apesar de Sílvia Pinto não ter aspirações políticas, acredita que os outros candidatos possam vir ser uns bons políticos, «jeito têm», escapa-lhe sorrateiramente. Contudo, Tiago Garcia não se imagina como político: «Apenas gosto de participar como cidadão democrata que sou». A campanha da lista A estava munida de cerca de 2 mil autocolantes, 100 cartazes, centenas de folhetos informativos e umas dezenas de t-shirts. «O apoio que tivemos foi de nós próprios, dividimos entre todos os gastos», sublinha Tiago Garcia. O mesmo aconteceu com a lista B. Mais sorte teve a lista C, que contou com o apoio de «uma pessoa amiga», que suportou do seu bolso os 150 cartazes, 70 autocolantes e algumas dezenas de t-shirts.

Patrícia Correia

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