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Aldeias da Idade do Ferro na Guarda e Sabugal

Nos Cantos do Património

Num encontro de jovens investigadores portugueses e espanhóis, realizado em Salamanca na semana passada, foram apresentadas inúmeras comunicações sobre as mais recentes descobertas arqueológicas peninsulares. Algumas delas incidiram sobre o final da Idade do Bronze (1250-800 a.C.) e a Idade do Ferro (800-100 a.C.) da região da Guarda. Aliás, a Beira Alta e a Beira Interior, talvez pela proximidade geográfica com Salamanca, esteve bem representada quer pelo número das comunicações apresentadas, quer pelo número de investigadores presentes. Constatou-se, por exemplo, que o trabalho realizado pelo Interior nada fica a dever ao trabalho realizado nas melhores universidades espanholas. Os nossos investigadores, apesar de mal divulgados em Espanha, apresentam uma qualidade e um rigor científico que ultrapassa em alguns casos os investigadores do outro lado da fronteira. Este encontro foi mais um importante passo para aproximar investigadores espanhóis e portugueses e, sobretudo, para se dar a conhecer o trabalho que se faz por aqui. Por outro lado, a troca de experiências e de informações veio colmatar algumas lacunas sobre a Pré-História regional e peninsular.

Diversas comunicações apresentadas no encontro de investigadores sobre a Beira Interior despertaram a curiosidade entre os investigadores espanhóis, nomeadamente o trabalho apresentado por Marcos Osório e Constança Santos sobre a Idade do Ferro na vila do Sabugal. Alguns elementos materiais recolhidos nas escavações da zona histórica da vila do Sabugal são fundamentais para compreendermos as dinâmicas sociais e as relações estabelecidas entre esta região da Beira Interior e as regiões espanholas mais próximas da actual fronteira no primeiro milénio antes da nossa era. A presença de restos de vasos de cerâmica, típicos do norte da Meseta, com decoração de “patos” – as primeiras encontradas na Beira Interior – vem trazer novas achegas sobre os contactos e a estreita relação que existia entre a Beira Interior e o Norte da Meseta espanhola durante a Idade do Ferro.

Um outro sítio divulgado no referido encontro foi o povoado de “fossas” escavadas no saibro, descoberto na zona dos Galegos e noticiado neste mesmo jornal. O sítio é o primeiro do género em toda a Beira Interior. A datação através do Carbono 14 atribuiu o sítio ao século V antes de Cristo. Ali, na zona dos Galegos, terá existido uma pequena aldeia da Idade do Ferro, com cabanas construídas com ramos e troncos, em cujo solo se escavaram alguns silos para armazenamento de cereais. A população explorava os terrenos dos arredores do povoado, cultivando cereais cujos excedentes eram armazenados em fossas escavadas no saibro e cobertas por pequenas cabanas. Dessas aldeias apenas restaram as fossas, as lareiras e os fragmentos dos vasos utilizados no dia-a-dia pelos seus habitantes. A bolota foi um dos produtos identificados nas escavações. Este fruto seria recolhido nas imediações e, depois de torrado, era transformado em farinha nos moinhos manuais de vaivém. Possivelmente, era também armazenado nas fossas para utilização nos tempos de maior escassez.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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