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Aldeia Viçosa matou outro “porco” 70 anos depois

Descendentes de José Almeida Tonico foram homenageados na terra natal no último domingo

Fez domingo 70 anos que a Aldeia de Porco passou a Aldeia Viçosa. Para assinalar a efeméride, a freguesia engalanou-se para homenagear os descendentes do autarca responsável pela mudança de nome e matou o porco à moda antiga.

A memória de José de Almeida Tonico está agora perpetuada num busto instalado junto à Casa do Povo. Manuel Aleixo, um dos agraciados, lembrou o avô como alguém «humilde, que gostava de conviver com todas as pessoas, com audácia, visão de futuro, capacidade de trabalho e de iniciativa». Da sua infância, o médico recordou igualmente as andanças com José de Almeida Tonico pelas aldeias vizinhas, onde era «uma pessoa bastante querida». Razões suficientes para deixarem Manuel Aleixo com «muito orgulho em ter tido um avô assim», confessando ainda «muita alegria» ao ver a sua aldeia homenageá-lo décadas depois. Um tributo «muito merecido», acrescentou Baltazar Lopes, presidente da Junta, para quem José de Almeida Tonico foi «um homem muito bom para a freguesia, assim como os seus filhos e os seus netos». Também José Luís de Almeida, que recebeu a medalha de prata dourada da freguesia, lembra o avô como «uma pessoa que primava pela humildade e pela modéstia».

Há 70 anos, o fundador da Joalto percebeu que os dizeres da carrinha que levava até Coimbra (“José de Almeida Tonico, Comerciante de Azeite, Porco”) estavam «no limite do “anti-marketing”», ironizou o presidente do Conselho de Administração de uma das maiores transportadoras nacionais. Com os estudantes a troçarem do nome da aldeia, o então presidente de Junta terá achado que «a melhor sede, não só para o azeite dele, mas também para todos os que mais tarde tivessem algum negócio, não seria “Aldeia do Porco”. Foi uma boa ideia», sublinhou o neto. Apesar disso, José Luís de Almeida orgulha-se das suas raízes: «Já era Aldeia Viçosa, mas continuo a dizer que fui baptizado na pia do Porco», disse o empresário, que continua a contribuir para ajudar «na conservação da aldeia e dos seus costumes e ritos», até porque «as pessoas sem raízes perdem algumas referências».

Outro dos homenageados foi Joaquim Valente. O actual presidente da Câmara da Guarda, natural de Cavadoude – na outra margem do Mondego –, recebeu a medalha de mérito da freguesia, que já tinha sido entregue à sua antecessora, Maria do Carmo Borges, em 2004. O edil agradeceu um galardão que disse ser o «símbolo de todos os que contribuem para o desenvolvimento das suas terras». Considerando José de Almeida Tonico «um visionário», acrescentou que os descendentes fizeram das suas empresas «uma referência no país, e até por continuidade de gente visionária, na Europa. São estas pessoas que muitas vezes decidem o futuro das terras e das pessoas», destacou. Em dia de festa foi ainda atribuído o topónimo do padre António Moreira Figueiredo a uma das ruas da aldeia. O sacerdote foi lembrado pelo cónego Abel como alguém que compreendia as necessidades das populações. «Quando ia a casa das pessoas doentes para lhes dar algum Sacramento, o padre António Moreira Figueiredo costumava deixar uma esmola por debaixo da almofada, para comprarem alguma comida», recordou depois de descerrar a placa, à entrada da localidade (pelo lado da Faia e Misarela).

Igor de Sousa Costa

Comentários dos nossos leitores
daniel danielmartins@hotmail.com
Comentário:
O meu pai nasceu na aldeia do Porco mas tinha orgulho do novo nome da aldeia.E eu nascido no Brasil sinto muito orgulho das minhas raizes.
 

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