É uma Guarda «muito melhor» aquela que Manuel Poppe encontra hoje, mas o escritor reconhece que é preciso continuar a lutar, porque «ainda há forças nesta cidade que se opõem à cultura». Na semana passada, o cronista esteve por cá no âmbito de um ciclo dedicado à sua vida e obra, organizado pelo TMG com a colaboração da autarquia e da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço.
Apesar de ter nascido em Lisboa, foi na Guarda que se «tornou pessoa», afirma. Chegou à cidade na década de 50, para curar uma tuberculose pulmonar, e cedo sentiu as “amarras” do regime salazarista: «Era uma Guarda difícil, com uma sociedade conservadora, mas também hipócrita, porque permitia certas fugas ao sistema», lembra. Aqui foi obrigado a «confrontar a vida sozinho», mas as pessoas, os lugares e os amigos fizeram-no «crescer». «Já vivi em muitos sítios, mas lembro-me sempre deste cantinho, onde aprendi a ser pessoa», admite. Quando olha para a cidade que conheceu, não tem dúvidas em afirmar que, hoje, a Guarda está «muito melhor». «Era impensável existir naquele tempo o TMG, os jornais, as rádios, tudo isto foi uma conquista sobre o que havia», reconhece. Para o escritor, todos os dias há pequenas mudanças que contribuem para fazer uma região melhor: «A cidade é sempre pior hoje do que no dia seguinte», considera.
Na área cultural destaca o trabalho desenvolvido por Américo Rodrigues no Teatro Municipal, mas não deixa de reconhecer que existe ainda uma luta por continuar, considerando que há «forças que se opõem à cultura, porque um homem culto é sempre o homem mais perigoso». Apesar de acreditar que já há muitas pessoas que veem na cultura um caminho essencial para o desenvolvimento da sociedade, o escritor admite que «houve um falhanço na educação», depois do 25 de abril. «Ainda temos de lutar», alerta. Viveu em Roma, Telavive, São Tomé e Rabat, lugares onde trabalhou enquanto conselheiro cultural da Embaixada de Portugal. No entanto, a vida “ambulante” não lhe apagou as memórias da cidade mais alta: «A Guarda disse-me ‘foste capaz’, foi aqui que apanhei a minha raiz», garante o autor. Nos seus romances, peças de teatro e as crónicas (no “Jornal de Notícias”) caminha uma cidade que influenciou «não a obra, mas toda a minha vida», acrescenta Manuel Poppe.
Esta visita foi um encontro com a influência que a região ainda exerce sobre ele. Um colóquio, uma oficina pedagógica, uma tertúlia e a estreia da peça da sua autoria “A Acácia Vermelha” foram apenas algumas das atividades deste ciclo. Até dia 18, está ainda patente na Biblioteca Municipal a exposição “Manuel Poppe: os trabalhos e os dias”. Deste ciclo, o dramaturgo destaca «o encontro com as pessoas», pois «provocar uma reação positiva é fantástico, é um agradecimento da vida», admite.
Catarina Pinto 
