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Ai o que a gente se ri

Ladrar à Caravana

Este governo, tal como profetizava o Ricardo Araújo Pereira no Gato Fedorento, é um maná para os humoristas: algumas piadas escrevem-se sozinhas.

Do material mais recente, destaca-se a história do barco do aborto – barco holandês – barco das Women on Waves – barco da perfídia – barco da esperança – Borndiep (riscar o que não interessa), e as hilariantes justificações do Ministro dos Assuntos do Mar (finalmente tem um assunto!) e do seu caddy Fernandes Thomaz. O perigo para a soberania nacional, por exemplo, fez-me imediatamente associar ao caso um barco cheio de Vikings sanguinolentos, de machados afiados, empoleirados na amurada do seu sinistro drakkar, prontos a tomar de assalto as praias da Figueira e continuar terra adentro, a ferro e fogo, deixando um rasto de destruição, cinzas fumegantes e cadáveres mutilados. Estão a ver o filme?

Outro argumento, o da defesa da lei vigente é igualmente de caixão à cova (cá estão os cadáveres do parágrafo anterior…). Para estabelecer um padrão de coerência, o Ministro da Defesa deveria fazer deslocar umas corvetas, fragatas, contratorpedeiros e mesmo um ou dois submarinos para a fronteira de Badajoz, pois sabemos que há imensas excomungadas que lá vão resolver o assunto. Podia até fretar o avião da YES para controlar o espaço aéreo. Com aquela eficácia que os caracteriza, nem uma andorinha grávida passava para o outro lado…

A história da saúde pública, então… tanto quanto me constou parece que o Borndiep trazia uma série de iogurtes fora de prazo no frigorífico. O que é gravíssimo. Com a saúde pública não se brinca.

E há uma última questão a meu ver importantíssima: a concorrência desleal que o barco vinha fazer às parteiras e desmanchadeiras clandestinas nacionais. Elas têm despesas, caramba!, não há hipótese se aparecem aí uns holandeses cheios de equipamentos e condições a fazer o serviço de graça. Apesar de não terem invocado esta razão (a Comissão Europeia era capaz de não achar graça) está aqui, estou convencido, o motivo de força maior que fez o nosso governo correr tanto e produzir tanto disparate em tão pouco tempo.

Ou como diz um amigo meu: “A situação é desesperada mas não é séria”.

Por: Jorge Bacelar

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