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Ah e tal, os híbridos…

A Turbo deste mês revela, citando estudos realizados por um instituto americano, o CNW, que afinal os custos ambientais associados aos automóveis híbridos são muito superiores ao esperado. Nesse estudo são tidos em conta factores como a energia dispendida no desenvolvimento, construção, utilização e reciclagem, ponderando estes factores com o tempo de vida esperado para cada veículo. Daqui resultou uma tabela classificativa, tendo por base o custo por quilómetro de cada veículo analisado. A conclusão é estrondosa, afinal os híbridos à venda no mercado têm um custo por quilómetro muito superior a qualquer veículo “normal”. Chegam mesmo a ter custos quase duas vezes superiores aos ecologicamente incorrectos Hummer H2 (um derivado dos famosos TT militares, omnipresentes nas guerras provocadas pelos americanos).

Para esta catástrofe contribuem decisivamente dois factores, a duração média ponderada para um Toyota Prius é de apenas 175000 km, (o Hummer é de 315000 km, o que em parte explica este resultado lisonjeiro) e a pesada factura ambiental decorrente do processo de fabrico e transporte das baterias de níquel. Vejamos o ciclo alucinante desde a extracção da matéria-prima até ao consumidor final: Mil toneladas de níquel são extraídas anualmente no Canadá, (o impacto ambiental resultante do tratamento in-loco leva a que, num raio de vários quilómetros, não exista uma só planta); depois de extraído, o níquel é enviado por barco, em contentores, para o País de Gales, seguindo para a fábrica de baterias na China, atravessando metade do Globo, onde é incorporado nas baterias, por fim a bateria é enviada para o Japão, onde é alojada no Prius ou no Civic Hibrid, que depois viajará de volta à “civilização”, EUA e Europa, onde pessoas como você e eu, tendo por base uma crescente consciência ambiental, ponderamos comprar um veículo como estes que, apesar de esteticamente feios poderiam ser ambientalmente “bonitos”. Tão enganados que nós estamos! Se formos somar à quantidade de galões de petróleo consumidos na extracção, transporte e comercialização dos materiais incorporados num veículo destes, o impacto ambiental resultante da contaminação de solos, (o níquel é um metal pesado) e as chuvas ácidas associadas às explorações mineiras, é bem provável que antes de os comprarmos, estes já tenham consumido mais petróleo e contaminado mais solo e ar do que o que irão consumir e contaminar como veículos “ecologicamente correctos” durante a sua utilização.

Alguém, há uns tempos, me dizia que nós não nos livramos do lixo, apenas nos limitamos a mudá-lo de sítio. Estes híbridos afinal, parece que, apenas se limitam a deixar o lixo para trás quando se nos apresentam limpos e silenciosos nas cidades, um pouco à semelhança da miséria que foi deixada para trás em cada peça de vestuário, bola de futebol ou brinquedo made in China, que nos aparece em reluzentes vitrinas.

Afinal parece que os quase 300000 km que a minha velhinha Passat fez (e os que estarão para vir), representam, um custo ambiental sempre inferior ao de um qualquer híbrido da praça.

Infelizmente como consumidores pouco temos a fazer, a não ser seleccionar o que de ambientalmente mais correcto nos for disponibilizado, os híbridos seriam uma dessas hipóteses mas, posto isto, lá teremos que mudar agulhas para outra forma de transporte, que já existe e que tem custos ambientais muitíssimo inferiores. Todos em força comprar Specializeds, Treks, Órbitas, Sirlas ou “Continentes”, toca a pedalar por este país fora, faz bem ao ambiente e faz emagrecer esta sociedade, cada vez mais, McDonaldizada e Telepizzada e os híbridos que se reconvertam aos pedais.

Por: José Carlos Lopes

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