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Água mais cara na Covilhã

Oposição considera haver «total insensibilidade social» da maioria PSD

Quando receberem a próxima factura, os consumidores de água na Covilhã já deverão sentir no bolso as novas tarifas, cuja actualização foi aprovada em 26 de Novembro de 2008 e publicada em “Diário da República” na semana passada. O novo tarifário da empresa municipal Águas da Covilhã (AdC), que entrou em vigor no passado dia 16, contempla aumentos no fornecimento de água, resíduos sólidos, drenagem, conservação e tratamento de esgotos.

Na reunião pública do executivo, realizada na última sexta-feira, João Esgalhado, vice-presidente do município, justificou os aumentos com a necessidade do «equilíbrio económico das Águas da Covilhã», rejeitando a ideia de penalização dos munícipes, pois «em 70 por cento dos casos, o aumento na factura vai ser de 20 cêntimos por mês». Por isso, considera não se verificarem «quaisquer aumentos brutais». «Continuamos a ter resultados de exploração que não são interessantes, algo que não se vai inverter nos próximos anos», sublinhou, recordando que já havia aumentos antes da constituição da AdC. «As actualizações de preços tinham a ver com a inflação, as necessidades de investimento e a procura do equilíbrio entre as despesas de exploração e as receitas daí provenientes», declarou. Nesse sentido, segundo o autarca, esta subida do tarifário nada tem a ver com a passagem dos serviços municipalizados a empresa municipal, comparticipada a 49 por cento pelo agrupamento AGS/Hidurbe, do grupo Somague.

Opinião contrária tem Vítor Pereira, do PS, que não tem dúvidas de que os aumentos estão relacionados com a alienação aprovada em Abril do ano passado. «Não vislumbramos justificação económica e financeira para estes aumentos brutais. Lamentamos que, numa situação de profunda crise económica, a maioria penalize os cidadãos», critica o vereador da oposição. Segundo o socialista, os novos preços afectam «sobretudo as micro e pequenas empresas com aumentos superiores a 20 por cento», considerando que a Câmara está a «revelar uma total insensibilidade social». Realça, por outro lado, que «se não fosse obrigatória a publicação em “Diário da República”, se calhar os covilhanenses só se aperceberiam do aumento quando fossem confrontados com as facturas». Igualmente crítico para com as novas tarifas, Jorge Fael, do PCP, defende que os aumentos são «completamente inaceitáveis» e que «resultam claramente da privatização da empresa», isto porque «alguém vai ter de pagar os milhões que a Somague pagou».

Trata-se da «transformação da água-serviço público em água-mercadoria», sendo que o cidadão «é obrigado a sustentar várias empresas» numa «lógica de negócio insustentável». Para o deputado municipal, «a partir do terceiro escalão, o consumidor é altamente penalizado, assim como os pequenos comerciantes, o que revela uma tremenda insensibilidade». Jorge Fael reclama então uma revisão destes tarifários: «Aumentos sim, mas com razoabilidade social», defende. Contactado por O INTERIOR, Leopoldo Santos, administrador delegado da AdC, escusou-se a comentar os novos preços, remetendo o assunto para Carlos Pinto, que, apesar das tentativas, não foi possível ouvir até ao fecho desta edição.

Factura mais “pesada” em quase todos os itens

Nas tarifas da água para os consumidores domésticos, nos três primeiros escalões (até 12 metros cúbicos), os aumentos são pouco significativos: de 0,33 para 0,34 cêntimos, de 0,88 para 0,91 e de 1,21 para 1,25, respectivamente. Quem consome menos continua a pagar as mesmas tarifas de conservação e tratamento de esgoto. Contudo, a partir do quarto e quinto escalão (13 a 20 metros cúbicos) a taxa passou de 0,80 para 1,82 cêntimos, e no sexto (superior a 20 metros cúbicos) de um euro para 2,27 cêntimos. Curiosamente também é nesta vertente que os consumidores não domésticos – que incluiu o sector comercial, industrial, obras, rega, serviços públicos da administração local, instituições sem fins lucrativos e serviços da administração central – mais são penalizados, uma vez que passam a pagar 1,70 euros por metro cúbico, em vez dos 75 cêntimos de 2008. Quanto à tarifa de recolha, depósito e tratamento de resíduos sólidos urbanos, todos os consumidores vão pagar mais, sendo a maior subida registada nos serviços da administração central e empresas públicas que passam de 12,10 para 13,19 euros por mês. De igual modo, a tarifa de disponibilidade do sistema de distribuição de água ficou mais “pesada” em todos os calibres do contador. Assim, nos contadores de mm a tarifa sobe de 4,40 para 4,53 euros por mês, e nos seguintes calibres de 6,60 para 6,80, e 9,90 euros para 10,20. A maior subida verifica-se no maior calibre (80 mm) onde a taxa passou de 209 para 215,27 euros.

Ricardo Cordeiro

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