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Água mais cara na Covilhã

Autarquia justifica aumento com discrepância entre custos e proveitos na prestação do serviço, mas não aponta data para a sua entrada em vigor

A água canalizada vai ficar mais cara para os habitantes da Covilhã. O último aumento aconteceu há três anos e João Esgalhado diz que, feitas as contas, o valor agora aprovado nem cobrirá a inflação nesse período. O vice-presidente da autarquia estima que o consumidor médio pagará mais 1,40 euros, mas não adiantou quando esse aumento passará a ser cobrado nas facturas.

A autarquia explica esta alteração do tarifário com a necessidade de assegurar rigor na gestão da Águas da Covilhã (AdC), aproximando as receitas dos custos. No entanto, os vereadores socialistas dizem que o objectivo é outro e destina-se a tornar a empresa municipal «mais apetecível» para eventuais interessados na aquisição dos 49 por cento que serão postos à venda. Aos munícipes nada mais resta se não aceitar a deliberação, que apanhou de surpresa a bancada socialista. O vereador Vítor Pereira diz que não teve tempo para analisar o documento em que a AdC justifica a subida. O também presidente da concelhia PS queixa-se de só ter recebido o documento após a deliberação, «sem a oportunidade de o analisar, mas uma leitura superficial leva-nos já a concluir que há um aumento substancial da já pesada factura da água no concelho da Covilhã». Mas há outra má notícia para os covilhanenses, é que a factura vai passar a ser entregue mensalmente, quando, até agora, era apresentada de dois em dois meses.

João Esgalhado adianta que esta ideia foi sugerida por diversos munícipes para «aliviar o peso da factura, dividindo-a». De resto, a sua implementação representará também «um custo significativo para a empresa, mas vamos responder a essa sugestão», refere o vereador. Quem desconfia disso é Vítor Pereira, acreditando que se tratará de uma «habilidade» criada para que «os mais incautos vejam diluído o aumento desta deliberação». Está ainda prevista uma mudança na apresentação da factura, já que terá os custos discriminados do consumo de água, da recolha de lixo e dos custos com saneamento. «Terá uma leitura mais fácil», sublinha João Esgalhado, acrescentando que esta alteração destina-se também a desmistificar um engano: «As pessoas pensam que a água na Covilhã é muito cara, porque associam o preço apenas ao seu custo, quando inclui também os resíduos sólidos e o saneamento», lembra. O vice-presidente sustenta ainda que a autarquia paga um «valor caríssimo» à empresa responsável pela compostagem do lixo recolhido no município.

No entanto, este aumento será inferior para os portadores do Cartão Municipal do Idoso, que, mesmo assim, consideram o aumento injustificado. Ema Gervásio, por exemplo, é reformada e adivinha mais dificuldades no orçamento: «Afecta-me na medida em que tenho de pagar mais e a minha reforma é pequena», lamenta. Já Palmira Garrido é trabalhadora e, com um agregado familiar maior, faz as contas de outra forma. A lide doméstica exige-lhe consumos elevados e, com este aumento, «as contas terão que ser mais apertadas», admite. Joana Barata estuda mas tem casa própria e, tal como Palmira Garrido, nota que a decisão camarária será «um golpe nas contas mensais». Por sua vez, os estudantes mostram-se indiferentes a esta subida. Para muitos, é a primeira vez que a água encarece, embora, na maioria dos casos, as contas sejam suportadas pelos pais ou repartidas, o que alivia os encargos.

Igor de Sousa Costa

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