Arquivo

Água globalizada

A AdP – Águas de Portugal, SGPS, S.A. (AdP) é uma holding pública criada em 1993 cujo objectivo é dotar o país de infra-estruturas de abastecimento de água e saneamento de águas residuais, em virtude das dificuldades evidenciadas pelas autarquias na realização de elevados investimentos.

Um relatório do Tribunal de Contas, alertou este mês, para a situação financeira débil, em que a AdP se encontra.

No ano de 2007, deu por terminada a ‘aventura’ de internacionalização no Brasil iniciada em 1998, estando na altura à frente da AdP o agora ministro Mário Lino. Esta aventura acabou por ser desastrosa, tendo um prejuízo acumulado superior a 100 milhões de euros. E se o processo de internacionalização para o Brasil, foi um desastre, a saída desse mesmo processo também não o foi melhor. Atente-se a pormenores como: em 2005 a AdP já tinha decidido iniciar a saída do Brasil, no entanto em 2006 aumenta o capital da empresa detida no Brasil; os encargos pagos a consultores para ‘desmontar’ esta internacionalização ultrapassou o milhão de euros.

O Brasil não foi caso único, a internacionalização da AdP para Cabo Verde, também tem um elevado prejuízo que poderá ascender aos 50 milhões de euros.

Estes poderiam ser apenas mais uns relatos para ler e esquecer, no entanto não vão cair no nosso esquecimento, porque em breve terão repercussões nos orçamentos familiares. A AdP (Águas de Portugal) referiu em resposta ao Tribunal de Contas, que urge encontrar soluções em conjunto com o Estado e as autarquias, sendo o mais afectado o interior do país caracterizado por uma população muito dispersa e pouco numerosa, obrigando a uma futura fixação de tarifas substancialmente mais elevadas.

É que, da AdP fazem parte 62 empresas, entre as quais se conta a Águas do Zêzere e Côa, a quem cabe a gestão e exploração multimunicipal de abastecimento de água à nossa região. Sendo esta última que factura a água aos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal da Guarda, que por sua vez se encarrega da facturação a todos nós do valor da água consumida.

E com as dificuldades financeiras que os Serviços Municipalizados já enfrentam, perante a subida das tarifas por parte da AdP, não terá outra alternativa senão repercutir esse custo adicional nos consumidores.

Em última instância poderemos dizer que o Estado preferiu financiar a água consumida por habitantes no Brasil em vez de se preocupar em fornecer um bem essencial às populações do interior a um custo mais justo.

Será talvez isto a globalização, quando em breve abrir a minha torneira, saberei que parte do que pago pela água que daí sair foi para ajudar alguma família da cidade de Búzios…

Por: Paulo Fragoso

Sobre o autor

Leave a Reply