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Água da barragem terá que ser paga por todos

Atualmente, apenas 300 dos 800 agricultores beneficiários pagam os 50 euros anuais de taxa de utilização

A torneira vai fechar-se para os agricultores que não paguem a água da barragem de Bouça Cova utilizada para regadio das suas terras. Em último caso, será mesmo a justiça a tratar dos incumpridores. O aviso foi feito à margem da inauguração oficial daquele aproveitamento hidroagrícola, que irriga 400 hectares de terrenos e beneficia 800 proprietários das freguesias de Bouça Cova e Cerejo (ambas no concelho de Pinhel) e de Vila Franca das Naves e Moimentinha (Trancoso).

A funcionar há nove anos, chegou a hora de todos comparticiparem a conservação e manutenção do sistema. Até agora, é cobrada anualmente uma taxa de utilização de 50 euros por hectare. «É um valor bastante acessível e que tem sido bem aceite, mas há quem ache que a água deve ser gratuita», refere o presidente da direção da Junta de Agricultores. Jorge Lucas acrescenta que o dinheiro conseguido por essa via serve para custear a manutenção do sistema e considera que não será necessário, por enquanto, aumentar o montante «desde que todos paguem». Ora, segundo dados daquele organismo, apenas 300 dos 800 beneficiários são pagantes, pelo que «é preciso tomar medidas, pois as pessoas têm que se mentalizar que é necessário pagar a água», afirma. De resto, a Junta de Agricultores e a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), que suportou os cerca de dois milhões de euros da empreitada, já reuniram para decidir o que fazer.

E a solução parece simples: «Quem não pagar deixa de receber água da barragem ou será processado judicialmente», adianta Jorge Lucas, para quem este projeto «que tanto custou a concretizar só terá viabilidade se todos contribuírem». O mesmo pensa o diretor da DRAPC. «Há agora uma nova etapa a iniciar sob pena desta obra se tornar inútil», apelou Rui Moreira no seu discurso. Também o autarca de Pinhel alertou que «o sistema não está a funcionar a cem por cento, para isso é preciso pagar». António Ruas sublinhou ainda que a utilização da barragem deve «obedecer a regras de civismo e bom senso», porque esta é uma obra «para as gerações futuras». O sistema hidroagrícola de Bouça Cova permite regar mais de 448 hectares, abastecidos por 1.300 saídas de água e dezenas de quilómetros de canais e ramais. Segundo Jorge Lucas, tem permitido «um bom aumento» da produção local de milho, batatas e maçãs, enquanto baixaram os custos, «nomeadamente com os combustíveis gastos para levar a água aos terrenos».

Além desta finalidade, foi autorizada a captação de água para abastecimento público às povoações de Alverca da Beira e Bouça Cova. A obra foi adjudicada no ano 2000 ao consórcio formado pelas empresas Trapsa e Chupas e Morrão, e ficou concluída a 30 de abril de 2002. O projeto abrange uma área de 470 hectares ao longo das Ribeiras de Cerejo e Massueime e inundou 68 hectares. A sua concretização muito se deveu a Maria Alice Saraiva, presidente da Junta de Bouça Cova, «uma pessoa incansável neste processo», recordou o diretor da DRAPC. A autarca agradeceu sobretudo aos seus concidadãos, «os mais sacrificados nesta obra, mas que souberam ver o alcance e a sua importância para a região».

Luis Martins Está em causa a manutenção e conservação do sistema hidroagrícola da Bouça Cova

Água da barragem terá que ser paga por todos

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