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Agricultores da Guarda queixam-se de discriminação do Governo

Associações do distrito estão descontentes com linhas de crédito disponibilizadas e alertam que animais vão continuar a morrer devido à seca

Há duas semanas as associações de criadores de ruminantes do distrito tinham saído «confiantes» de uma reunião realizada com o secretário de Estado da Agricultura no Governo Civil da Guarda, mas ficaram «incrédulas» na passada quarta-feira com as medidas anunciadas por David Geraldes para o combate à seca. Logo após ter visitado algumas explorações do concelho do Sabugal, onde já morreram vários animais devido à seca e à geada que assolam a região, o governante anunciou a criação de duas linhas de crédito com juros bonificados no valor de 150 milhões de euros.

Admitindo que a situação no distrito da Guarda é «preocupante na pecuária», porque as pastagens foram afectadas pela «seca e geadas», o governante falou então na implementação de duas linhas de crédito, uma delas com uma taxa de juro «totalmente bonificada» para a alimentação dos animais, de um ano, com um tecto financeiro de 100 milhões de euros. A outra é de 50 milhões para a parte infraestrutural de reservas de armazenamento de águas e que tem uma taxa de juro «altamente bonificada», regressiva ao longo de seis anos com um primeiro ano de carência, «o que é altamente favorável aos agricultores». Medidas que não agradaram em nada aos criadores do distrito da Guarda, que exigem os mesmos 30 euros por vaca e nove por ovelha mensais que os produtores pecuários do Alentejo e da parte Sul do distrito de Castelo Branco estão a receber para a ajuda de alimentação para os seus animais. «Gostaríamos que nos fossem explicados os critérios adoptados pelo Governo para ajudar financeiramente umas regiões do país e outras não. Há dois pesos e duas medidas. Exigimos saber os critérios para definir a seca, se são os milímetros de água caída ou se é a cara dos amigos», ironiza José Manuel Nunes, veterinário da Acriguarda.

Para este técnico, as medidas anunciadas pelo secretário de Estado da Agricultura estão «completamente desadequadas das necessidades dos agricultores desta região». Isto porque o distrito precisa é de «uma ajuda directa para a compra imediata de alimento, palha, feno e ração» e apoios à compra de equipamentos, como cisternas, aberturas de pequenos furos artesianos e charcas para captação de água, «com a comparticipação do Estado a fundo perdido». «Não é aceitável descriminar desta forma os agricultores do distrito», contesta José Manuel Nunes. O veterinário alerta ainda que é necessária ajuda para a compra dos alimentos para evitar que os animais morram, apontando o exemplo de uma vacada na Guarda, onde já morreram seis vacas, e de um rebanho em Figueira de Castelo Rodrigo, que perdeu cerca de 40 ovelhas devido à seca.

Agricultores dispostos a tomar medidas «drásticas»

Joaquim Martinho Marques, veterinário da Acrisabugal, adianta que «só não estão a morrer mais animais porque, felizmente, os agricultores estão conscientes e a gastar as reservas económicas para adquirir rações e palhas», queixando-se de que a região está «nitidamente a ser alvo de uma discriminação negativa». Também António Louro, presidente da Acriguarda, garante que se está a assistir a uma «situação catastrófica» e que «continuam a morrer animais» no distrito. Em relação às medidas anunciadas por David Geraldes, os criadores do distrito ficaram «incrédulos». «Estamos muito tristes, pois pensávamos que o secretário de Estado nos vinha dar alguma coisa nova, mas afinal não veio dar absolutamente nada. Assim, o gado vai continuar a morrer», alerta. Até porque o distrito é uma região onde imperam os minifúndios e os agricultores «praticamente nunca recorrem à banca», fazendo muitos sacrifícios, tirando inclusive «o pão da boca para dar aos animais», sublinha. Quanto a José Freire, presidente da Acrisabugal, esclarece que «não queremos mais que os agricultores do Sul, mas sim ter os mesmos apoios». Caso contrário estão dispostos a tomar medidas «mais drásticas». Confrontado com estas críticas, o secretário de Estado da Agricultura, respondeu que «quem dá o que tem a mais não é obrigado» e que «por mais medidas que haja numa situação de crise, elas nunca são suficientes».

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