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Agressão psicológica no trabalho (Mobbing)

[“… e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça de uma concorrência desenfreada”]

Carta Encíclica (Rerum Novarum) do Papa Leão XIII, 1891

A competitividade no local de trabalho, crescente nos tempos modernos, pode transformar o ambiente laboral num lugar de conflitos e violência. O “mobbing” é uma possibilidade em todas as sociedades e organizações laborais.

O assédio moral no trabalho é um comportamento abusivo (gesto, palavra, comportamento, atitude) que atente, pela sua repetição ou pela sua sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma pessoa, pondo em perigo o seu emprego ou degradando o clima de trabalho (Hirigoyen, 2002) .

Para Hirigoyen (1998), o assédio moral no trabalho é um fenómeno que:

a)destrói o ambiente de trabalho, b) diminui a produtividade, c)aumenta o absentismo pelo desgaste psicológico dos trabalhadores.

O “mobbing” no trabalho inicia-se com a mudança na relação entre agressor e a pessoa que, a partir de então, se converte em objeto de assédio. Segundo Piñuel (2001), a mudança na relação costuma ser motivada por sentimentos de ciúme, inveja, competição, promoção da pessoa ou chegada ao local de trabalho de um novo elemento. Descriminação do outro pode resultar do sexo, raça, orientação sexual,…

Métodos de assédio moral no trabalho:

1) Degradação das condições laborais:

O agressor atenta contra a dignidade da vítima, fazendo com que a mesma se sinta incompetente. A vítima começa a ter uma imagem negativa de si própria. Hirigoyen (2002) refere, entre outros, os seguintes procedimentos hostis: retirar autonomia, induzir em erro, dar novas tarefas sem formação, impedir promoção, atribuir tarefas incompatíveis com a saúde,…

2) Isolamento e recusa de comunicação:

Tornam o trabalhador menos hábil a reagir e a auto defender-se, pois fica sem apoio, são exemplos: interromper a vítima constantemente, colocar a vítima separada dos colegas,…

3) Atentados contra a dignidade:

Praticados por palavras subentendidas, difamando a pessoa ou o seu trabalho.

4) Violência verbal, física ou sexual, da qual fazem parte:

Falar com a vítima aos gritos; ameaças de violência física; não valorizar os problemas de saúde do trabalhador.

O assédio pode ser efetuado em qualquer nível hierárquico. Pelos colegas, pelas chefias e pelos subalternos. O “mobbing” no trabalho causa enorme sofrimento aos trabalhadores afetados e diminuição da competitividade da empresa. Os sintomas mais frequentes são alterações do sono, ansiedade, stress, hipervigilância, alteração da personalidade, sintomas psicossomáticos, fadiga crónica, problemas no relacionamento conjugal e depressão. As consequências na saúde das vítimas é grave e a recuperação é lenta.

O “mobbing” é um fenómeno sub-diagnosticado. O agressor sabe ser ágil, destruindo a autoestima da vítima captando apoio de outros elementos (cúmplices) contra a mesma. Alertar a sociedade para esta realidade é um imperativo legal e ético.

José Valbom, médico

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