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Agora ou Nunca

Este ano é de antecipações: da época de incêndios, cortesia dos calores de Maio; da silly season, a pretexto do Mundial de Futebol. Significa isto que resta pouco tempo para se falar de coisas sérias (embora, como é sabido, o futebol não seja uma questão de vida ou de morte – é muito mais importante do que isso).

Temos então este breve momento para avaliar os primeiros meses de gestão de Joaquim Valente na Câmara Municipal da Guarda. Aproveito para declarar o óbito da oposição, por falta de prova de vida. Houve uns sinais, é verdade, mas eram só estertores.

Que aconteceu então de significativo nestes últimos meses? Antes de mais, verifiquemos as circunstâncias. Joaquim Valente percebeu logo, se o não sabia já, que não tinha dinheiro, que tinha mais funcionários do que aqueles de que necessitava, que o passivo da Câmara era gigantesco e exigível a curto ou médio prazo, que se tivesse prometido muito, e felizmente não prometeu, não iria poder cumprir, que o activo era inferior ao esperado e que a receita previsível iria ser muito inferior à despesa obrigatória. Que, finalmente, não poderia esperar do seu amigo José Sócrates qualquer tipo de ajuda especial, tantas eram as dificuldades que o próprio país atravessava.

Mas mesmo assim aconteceram coisas. Fechou a única sala de cinema comercial da cidade. Houve a promessa da abertura do “Guarda Mall”, que teria várias salas, mas o projecto voltou chumbado da CCRC. Demitiu-se em circunstâncias mal esclarecidas o responsável pelo urbanismo da Câmara. As obras da nova biblioteca municipal continuaram paradas, mas agora com o risco de ficarem perdidas as comparticipações comunitárias. Mantém-se a ameaça do encerramento da maternidade. A Delphi, principal empregadora privada do concelho, vê ameaçada de falência a casa mãe e todos percebem que os empregos que ainda garante aqui são mais do que precários. O IPG arrasta-se para o fundo, perdendo alunos e credibilidade e é notícia apenas pelos processos judiciais em que se vê envolvido. Aconteceu outra coisa, mas esta passou totalmente despercebida e vou revelá-la agora em primeira-mão: não houve uma única boa notícia nos últimos meses.

Por tudo isto, se Joaquim Valente quiser que o seu mandato fique marcado por algo de significativo, que justifique a sua reeleição, necessita de fazer alguma coisa e depressa. Nem que seja, no próximo orçamento, a demonstração de que saneou financeiramente a Câmara Municipal.

Sugestões

Um filme: Lost in Translation (de Sofia Coppola, com o enorme Bill Murray e a suculenta Scarlett Johansson). Já tinha recomendado este filme e estou a repetir-me? Veja-o outra vez, agora em DVD, que o cinema da Guarda fechou.

Outro filme: The Pride of the Yankees (de Sam Wood, com Gary Cooper). A história, verdadeira, de Lou Gehrig, um dos maiores jogadores de baseball de todos os tempos, obrigado a abandonar depois de lhe ser diagnosticada uma doença fatal. A sua despedida pública no estádio dos New York Yankees, quando todos sabiam já que ele ia morrer em breve, é um dos momentos mais arrepiantes e memoráveis da história do desporto.

Outro desportista: Rui Costa. Pouco me interessa se está em final de carreira, se as pernas lhe pesam, se aguenta apenas meio tempo. Volta ao Benfica para cumprir uma promessa e um sonho, deitando milhões de euros fora para o poder fazer. É um exemplo de verticalidade e classe a seguir, num país tão falho de uma e outra.

Por: António Ferreira

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