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Agora mais que nunca

O povo foi às urnas ou, como muitos dizem, o povo falou, e através do voto escolheu de forma democrática. E independentemente de considerarmos a escolha acertada ou não, ela foi livre, democrática e expressiva, foram democraticamente eleitos os deputados da nação e assim os representantes do povo. O novo governo será constituído e em breve, para além de novos ministros e secretários de Estado, também nas instituições públicas, centenas de “novos outros”, entre presidentes, administradores, adjuntos, vogais e outros como tais, serão escolhidos. Centenas de outros, que não sendo democraticamente eleitos pelo povo, serão indicados pelas forças partidárias vencedoras das eleições e escolhidos por aqueles que elegemos, para gerir as instituições públicas e assim operacionalizar as políticas. A estes deverá ser exigida competência e capacidade de realização, e a obrigatoriedade do cumprimento de objetivos institucionais e sociais, eliminando à partida todos aqueles que se movem, como muitas vezes acontece, por objetivos pessoais.

Mas a nossa ainda jovem história em democracia prova-nos inequivocamente que as escolhas nem sempre foram as mais acertadas, prova-nos que nem sempre foram escolhidos os mais capazes e competentes para gerir as instituições e os bens públicos.

Assim, são muitos aqueles que já esfregam as mãos e abrem as narinas a saborear o cheiro do poder que está no ar. Como sempre que alterna o poder, abriu a caça aos lugares. E são muitos aqueles que esperam ser contemplados, uns por muitos anos de míngua do poder e a ele habituados, outros por, de bandeira na mão, terem participado em muitas arruadas. São agora dois os partidos que vão formar Governo e desta forma aumentou o potencial clientelismo, é agora hora dos muitos “boys” jogarem ao jogo das cadeiras do poder. Mas a situação económica do país, não permite mais erros, por isso exige-se que as escolhas dos “democraticamente eleitos” recaiam em pessoas defensoras da causa pública e capazes de uma gestão responsável, pessoas que evidenciem competência no desempenho e demonstrem capacidade de motivação.

Iremos ter um governo maioritário fruto da coligação do PSD e do CDS, uma politica de direita fortalecida também e, pela primeira vez, pela Presidência da República. A eles compete implementar as medidas já impostas em acordo prévio pela troika. Os tempos vão ser mais difíceis do que nunca, mas é desejável que impere o bom senso e se consigam atingir os objetivos económicos em equilíbrio com a manutenção do bem-estar das pessoas, não aceitando que a frieza dos números, a que algumas medidas obrigam, se sobreponha à necessária satisfação das necessidades básicas de todos os portugueses.

Agora mais do que nunca é tempo de apostar no nosso capital humano, de acreditar em todos os portugueses. Agora mais do que nunca, é tempo de vivenciar a cidadania, é tempo de todos, sem exceção, contribuirmos para construir o futuro do país. E isso pode ser feito por todos nós, nas organizações onde trabalhamos, nas coletividades onde participamos, nos partidos onde militamos, nas ruas, enfim, nas nossas vidas. Mas é ao Governo que compete governar, é ao Governo que compete implementar as medidas já previamente acordadas com a troika. As medidas vão ser duras e as dificuldades vão ser sentidas por todos, mas é claro, que, como em tudo, as coisas vão ser mais difíceis para uns do que para outros. Ao Governo compete assegurar o equilíbrio social que a aplicação de algumas medidas meramente economicistas poderá fragilizar. O povo, se sofrido e descrente, irá sair à rua, irá exigir que a riqueza, assim como as dificuldades, seja distribuída de forma equitativa. Agora mais do que nunca, o diálogo entre Governo, partidos, patronato, centrais sindicais e sociedade civil é um imperativo.

Nota do autor: Os resultados eleitorais foram expressivos, mas no nosso distrito a diferença de votos entre as duas maiores forças partidárias superou em muito os números do escrutínio nacional, levando ao desequilíbrio no número de deputados que nos representam, sendo agora três do PSD e apenas um do PS. Perante esta histórica e desastrosa derrota do partido onde milito, aguardo que o líder distrital do PS siga o seu líder nacional fielmente como fez até aqui e, honrosamente como ele, se demita. Pois, como eu há muito defendo, no que respeita às recentes dinâmicas da Federação do Partido Socialista da Guarda, as lideranças do aparelho funcionam para engrossar falsas militâncias, encher recintos e autocarros, mas são frágeis e efémeras. Enquanto as lideranças alicerçadas nas ideias, essas, multiplicam-se de forma exponencial na militância e no tempo, movendo e motivando as pessoas que, no coletivo social, valem a força do povo.

Por: Joaquim Nércio

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