A AENEBEIRA ameaça interpor uma providência cautelar para requerer o encerramento do Mercado Grossista de Trancoso. Em causa está o facto daquela unidade comercial, localizada junto ao Estádio Municipal, estar, de acordo com a Associação Empresarial do Nordeste da Beira, a permitir que, «indiscriminadamente, todo o tipo de consumidores» ali possa efectuar compras. O sócio-gerente da Calvestlar, sociedade exploradora daquele centro comercial grossista, considera que os comerciantes «não têm razão» na sua contestação.
António Oliveira, presidente da AENEBEIRA, recorda que o objectivo do mercado grossista era «abastecer o comércio retalhista da região a nível de confecções, calçado e artigos para o lar, mas não é isso que tem vindo a acontecer», reclama. «Temos vindo a ser alertados por um conjunto significativo de retalhistas de Trancoso para o facto do mercado grossista ter permitido o acesso indiscriminado a todo o tipo de consumidores e isso, naturalmente, que lesa o comércio retalhista da região», considera. De resto, mais de uma dezena de sócios da AENEBEIRA aprovaram uma moção para que a associação tome as «diligências necessárias junto daquela entidade para que desenvolva a sua actividade comercial segundo as normas habituais». De acordo com o documento, a que O INTERIOR teve acesso, entre as regras exigidas está um acesso «fortemente condicionado» a apenas detentores de cartão de retalhista, a emitir pela Calvestlar, e onde conste o nome do beneficiário, número de contribuinte e o respectivo CAE [código de classificação das actividades económicas].
A moção refere ainda que se estas diligências não surtirem efeito e o Centro Grossista continuar «a prática que vem seguindo, deverá a AENEBEIRA, por todos os meios legais disponíveis, nomeadamente através da via judicial, interpor uma providência cautelar para requerer o encerramento daquela unidade comercial até ao seu cabal e total licenciamento». Confrontado com esta reclamação, António Morais, sócio-gerente da Calvestlar, desdramatiza a questão e considera que «os lojistas de Trancoso não têm razão para tal queixa», pois «somos apenas uma gota no oceano e, se nós fecharmos, eles continuam a vender o mesmo». Sobre o facto de particulares comprarem produtos no Mercado Grossista, que apenas está aberto às sextas-feiras, o empresário contrapõe que «não podemos proibir de entrar uma senhora que tenha, por exemplo, um café e aqui dentro compra uma peça de roupa», pois se «tem um café, é uma comerciante».
António Morais reconhece que não pode dizer «a 100 por cento que não entravam particulares», embora haja um funcionário encarregue de controlar as entradas e com «ordens de só deixar entrar comerciantes». Admite, no entanto, que um particular «se pode meter» quando o dito funcionário «vai à casa de banho ou tomar um café, mas é uma insignificância», tranquiliza. Aliás, António Morais garante que «não são os grossistas que estão a “dar cabo” do comércio em Trancoso». Na sua opinião, o problema é que «os chineses se instalaram em Portugal com isenção total de impostos», considerando que estes são «intocáveis, enquanto nós estamos aqui a ganhar para a despesa praticamente e não é isso que afecta os comerciantes de Trancoso», argumenta. Mas estes também não escapam às críticas, pois o empresário considera que «pararam no tempo» e «não se actualizaram e inovaram». Aberto desde Setembro de 2008, o Mercado Grossista de Trancoso tem capacidade para 30 lojas, mas actualmente apenas 20 funcionam e está «na eminência de passar a 15», adianta o sócio-gerente da Calvestlar.
Ricardo Cordeiro