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Adriano Vasco Rodrigues «muito honrado» com homenagem na Guarda

Cerca de 100 pessoas marcaram presença na iniciativa do Rotary Club

«Singrei muitas vezes em condições difíceis». Foi um Adriano Vasco Rodrigues emocionado que surgiu no jantar de homenagem que o Rotary Club da “cidade mais alta” promoveu na noite do último sábado e que contou com a presença de cerca de 100 pessoas. O homenageado, professor e historiador, nado e criado na Guarda, falou das suas peripécias e aventuras ao longo de uma vida que inclui passagens por Angola e Bélgica e gracejou com o facto de ter aceite ser Governador Civil da Guarda, o que lhe terá evitado ser Provedor da Casa Pia, instituição na ribalta nos dias de hoje pelos piores motivos.

Adriano Vasco Rodrigues recebeu com «profunda emoção» esta «imerecida homenagem», tomando-a «mais como uma manifestação de amizade» para com uma pessoa «que nunca se vangloriou daquilo que fez», assevera. Nem o facto de ter chegado a director da “Schola Europaea” (Bruxelas), um cargo onde «ainda mais nenhum português chegou», o faz ter «vaidade», mesmo tendo em conta que alcançou o lugar por mérito próprio, através de um concurso público e não por nomeação política, relembra. Apesar do brilhante currículo que apresenta, Adriano Vasco Rodrigues foi um «fraco aluno» nos primeiros anos do liceu, tendo começado «muito mal» a sua carreira de estudante, chegando a chumbar no primeiro ano da faculdade. O historiador relembrou ainda os tempos em que morou com os seus avós na Guarda, que se viram “obrigados” a cortar-lhe a luz do quarto porque «em vez de estudar passava a noite a ler romances». Mas como a vontade de ler falava mais alto, Adriano Vasco Rodrigues ainda se aventurou com uns fósforos e azeite ou óleo de fígado de bacalhau, «o que eu não fazia era estudar aquilo que devia», recorda.

Relembrando a sua infância, o professor afirma que apesar de ter andado muitas vezes fora da Guarda, há coisas de que «nunca nos podemos libertar, que são as nossas origens e os valores» com que foi criado, como «honestidade, sinceridade, amizade como um valor absoluto e o respeito por nós mesmos», refere. Adriano Vasco Rodrigues considerou ter tido «sorte» em ter vindo para a Guarda para exercer o cargo de Governador Civil, uma vez que «tempos antes» tinha sido convidado para Provedor da Casa Pia. Um “trolha” que ajudou a promover até encarregado também foi relembrado pelo homenageado, num episódio do que «muitas vezes é a vida»: «Quando era professor primário no Porto e ia a Coimbra fazer exames encontrei um homem que me disse que, se soubesse fazer a divisão, o patrão já o tinha posto como apontador». Num gesto de saber «repartir com os outros aquilo que temos e sabemos», o historiador ensinou a operação ao homem que anos mais tarde “recompensou” a ajuda com o pagamento de um lanche, numa altura em que já tinha sido promovido a encarregado. De resto, o «segredo» do sucesso alcançado por Adriano Vasco Rodrigues residiu «fundamentalmente no amor», realçando que teve a «sorte» de encontrar uma mulher que foi uma «companheira fantástica» por toda a parte. De regresso à cidade que há muito deixou para abraçar outras paragens, o professor queixa-se da Guarda ter «perdido alguns valores, como a solidariedade, amizade ou o respeito», o que para muito contribuem os grandes prédios que existem hoje, que levam a que os vizinhos «nem se conheçam», lamenta.

Ricardo Cordeiro

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