Por Aureliano Valente*
Vislumbra-se a ameaça fatal ao supremo estatuto da inteligência humana que, até hoje, filósofos e psicólogos confortavelmente defendiam refugiando-se no irrefutável argumento de que jamais o homem será capaz de reproduzir as suas capacidades subjectivas e emocionais. Os primeiros aplicativos a detectar e a emitir emoções estão aí: em Espanha foi desenvolvido um software que detecta emoções humanas pela voz; o Affect Phone é um projecto japonês que vai permitir a transmissão de emoções em forma de calor por um iPhone. Micro câmaras proliferam por aí, desde os touch screen às prateleiras dos supermercados, que detectam movimentos, interpretam desejos e ditam respostas à medida de cada um. No mundo dos vídeo jogos, primeiro foi a Wii que com um revolucionário comando controla toda a acção no ecrã apenas com o movimento; a Sony seguiu-lhe os passos e apresentou recentemente o seu novo comando, o Playstation Move que, em conjunto com a câmara Playstation Ey, é capaz de detectar com um maior grau de precisão os gestos efectuados pelo jogador.
Mas todas as atenções estão agora centradas na E3 (Electronic Entertainement Expo) particularmente na Kinect da Microsoft (Project Natal). Dizem que é um cérebro capaz de aprender, que detecta a presença de alguém, reconhecendo-lhe o rosto e a voz, capaz de interagir como de uma pessoa se tratasse. Não se surpreenda se, por acaso num dia destes, o seu LCD desatar a rir de si ou esboçar gestos de reprovação sempre que você se curva em movimentos desarticulados num esforço desesperado para vencer um inimigo virtual. Nesse momento você passa a ser mais uma testemunha da capitulação da inteligência humana.
* professor
