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Adeus às imagens digitais…

Em 2001, numa crónica para o “Anglo Portuguese News”, em Lisboa, escrevi: «Fotografia digital é a morte anunciada das fotografias da sua família». Agora, as palavras parecem proféticas.

“Fast forward” ao Verão de 2006, no calor do Terreiro do Paço. Sentei-me com gratidão na sombra do Rei D. Pedro para descansar uns vinte minutos enquanto muita gente passa pela praça. Muitos tiraram fotos, uns aos outros, quase sempre com o arco da Rua Augusta ao fundo.

Depois de examinarem os resultados no ecrã, os satisfeitos fotógrafos dirigiram-se ao quiosque ali perto para um gelado. E eu pensei… lá em casa, algumas daquela imagens serão transferidas para um computador… talvez… e algumas enviadas para amigos. Mas impressas, ou gravadas num CD? Poucos.

O futuro da foto, como gravação permanente, é muito incerto. Desde a chegada das primeiras fotografias, há 170 anos, tínhamos imagens que podíamos ver e tocar. Chapas de vidro, filmes de 120 ou 35 milímetros, rolos de slides, provas preto e branco: todas são imagens permanentes de prata metálica, com uma vida de décadas.

O processo de revelar é clássico e simples, e quase nada mudou em 150 anos. No meu laboratório caseiro posso fazer, já em 2009, uma prova de qualquer negativo feito desde 1857. O meu pai no Japão em 1938? O Vivaci na Guarda em 2008? Bastam cinco minutos.

Mas essa época da fotografia analógica – ou artesanal – está quase passada. A obsolescência está a garantir que, passados 10 anos, quase todas as imagens digitais tiradas em 2009 não existirão.

Este cronista não sofre de tecnofobia. Faço quase tudo com filme, mas escrevo estas linhas num editor de Linux, com GIMP em vez do Photoshop para

os “scans”. A era digital trouxe novas energias, ideias e rapidez à fotografia. Mas…

Problema nº 1: Não fazemos provas. “Imprimir” foi substituído por “Mostrar”. Foi no Terreiro do Paço que percebi que comportamentos estabelecidos há 150 anos estavam a mudar. Mostramos imagens através da máquina, do telemóvel, por email ou no portátil; mas fazemos poucas provas.

Problema nº 2: aquelas imagens desaparecem. Caro leitor, uma pergunta.

Hoje, neste momento, tem cópias das suas imagens digitais mais prezadas, arquivadas em CD ou DVD? Não? Então, podemos garantir que vão seguir o mesmo caminho que os emails e cartas escritas há cinco anos.

Sim, fazemos alguns “back-ups”, mas as nossas fichas desaparecem. O computador é substituído, o portátil foi roubado, o DVD perdido; o resto junta-se às pilhas de mal-organizados CD’s, disquetes, zips e flashes.

Problema nº 3: Permanência. Todos tivemos um CD que abriu em casa, mas não abriu no escritório; o disco rígido que faliu, o flash que agora não responde. E afinal, tudo desaparece: dispositivos, software e conteúdo. Tenho folhas de Lotus (1994) em 5,25” disquette, um livro num ZipDisk (1998); desenhos em CorelDraw 3. As máquinas digitais vendem-se pouco em segunda mão. Enquanto as analógicas da Leica, Hasselblad ou Nikon ainda têm valor, a máquina digital, como o computador de ontem, é rapidamente lixo electrónico sem valor. O que fazer com tanta obsolescência?

Primeiro, faça boas provas, no mínimo 13×18 ou A5, das suas imagens digitais importantes e guarde-as num lugar seguro. Segundo, para aquele dia ou viagem especial, leve também uma máquina de filme para fotos adicionais das coisas importantes. Terceiro, grave um CD das suas imagens mais preciosas. As fichas podem ter menos de um megabyte cada. Faça uma lista de nomes, datas e lugares e grave-a no mesmo CD numa ficha LeiaMe. Faça outra cópia de tudo em DVD. Depois, arranje caixas e rótulos para os dois. Verifique que os discos abrem sem problemas numa máquina diferente. E como a canção de Bob Dylan aconselhou: “Keep ‘em in a cool dry place…” [Guarde-as num lugar fresco e seco]

Sem essas precauções, a possibilidade de mostrar à linda Ana Paula, quando tiver 21 anos, as provas do seu baptizado em 2009 serão zero.

Por: Rory Birkby

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