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Adegas da Beira Interior sobrevivem

Apesar da falta de escoamento do vinho, responsáveis garantem que a situação não é assim tão má na região

A crise financeira assola todos os sectores e as adegas ou cooperativas são mais umas vítimas. O vinho que é produzido na região da Beira Interior é de muito grau e pouca uva, por isso Mário Ferreira da Silva, director-geral da UNACOBI (União das Adegas Cooperativas da Beira Interior) desdramatiza o cenário negro pressagiado por alguns. «Nenhuma das adegas da região está em situação de bancarrota», afiança o responsável, acrescentando haver isso sim «algumas instituições que pagam mais por quilos de uva aos seus associados do que outras». Mas contra factos não há argumentos.

A crise da PinhelCoop – Cooperativa Agrícola dos Lavradores do Concelho de Pinhel e as recentes notícias sobre a Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo, vindas a público pelo deputado comunista Bernardino Soares, que apresentou um requerimento na Assembleia República, vieram instalar o receio entre associados e produtores da região. Para provar que a situação não é tão má como dizem, Mário Ferreira da Silva socorre-se do estudo apresentado recentemente sobre “Estratégia de Desenvolvimento do Sector Vitivinícola na Região da Beira Interior”. Entre outras coisas, conclui-se que as adegas estão «bastante melhor que há uns anos atrás e com alguns sinais de melhoria evidente, quer no sector comercial, quer no de produção e na própria tecnologia com que fabricam os vinhos», adianta o dirigente. A prova disso mesmo são os dois projectos que já estão em marcha pela UNACOBI. Um prende-se com a criação de uma central de compras conjunta para as cinco adegas que a integram, as Adegas Cooperativas de Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo, Covilhã, Beira Serra (Vila Franca das Naves) e Fundão.

O projecto vai possibilitar a concentração do volume de encomendas de bens e serviços necessários às cinco adegas, bem como a operacionalização de um processo sistemático de identificação, selecção e avaliação de fornecedores. Com a criação desta central de compras, pretende-se igualmente aceder a um maior número de fornecedores, bem como reduzir os custos de aquisição de bens e serviços comuns às adegas, dos gastos inerentes ao processo de encomenda e do tempo de ciclo da compra, através de um planeamento efectivo das encomendas. Para além desta medida, pretendem ainda colocar no terreno uma «acção de promoção e valorização conjunta dos vinhos da Beira Interior», adianta Mário Ferreira da Silva.

Promoção internacional

O outro projecto envolve a UNACOBI, as adegas da Beira Interior e a Federação Nacional das Adegas Portuguesas por forma a possibilitar a promoção dos vinhos da região noutros países. Como já aconteceu no ano passado, os vinhos da Beira Interior foram apresentados em Nova Iorque, Chicago, São Paulo, China ou Japão, entre outros locais. «Já estamos a mexer nesta região como um todo», constata o director-geral. Com todos estes projectos, «pretendemos começar a desenhar vinhos para cada uma das adegas da Beira Interior com características específicas. Depois de encararmos a região como um todo e acreditarmos que tem todas as características para produzir bons vinhos, só falta apostar na divulgação e promoção», acrescenta Mário Ferreira da Silva. O mercado é muito competitivo e é uma corrida desleal, «porque os outros países recebem subsídios que nós não temos», lamenta. Porém, não é só um problema de apoios para vender o vinho, também existe a dificuldade em fixar as pessoas: «Caso contra´rio a vinha acaba por si», avisa. Por isso, todas as adegas têm que «servir de “almofada de conforto” aos seus associados» para que não fiquem sem matéria-prima daqui por uns anos, «quando alcançarem uma estável situação financeira».

Só as cinco cooperativas que integram a UNACOBI produzem aproximadamente 50 milhões de litros de vinho por ano, sendo que se pretende «vender o mais possível engarrafonado porque é isso que vai dar mais-valias para que as adegas possam melhorar o que pagam aos agricultores», refere.

Medidas de combate

O problema é igual para todas as adegas do país, mas umas têm mais facilidade em exportar do que outras. Depois há também alguns entraves burocráticos. Por exemplo, a taxa de promoção, que «é muito elevada», queixa-se Mário Ferreira da Silva, mas esta é uma situação que já está a ser analisada pela Comissão Europeia. Por outro lado, a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior devia ser «mais activa e agressiva do que tem sido nos últimos três anos», critica. Outra forma de subsidiar as adegas são as queimas do vinho em excesso, transformando o néctar em álcool. Um procedimento que dá cerca de 30 cêntimos por litro às cooperativas. Mas o director-geral da UNACOBI avança outras medidas para combater a má situação. «Porque não criar uma nova linha de crédito sem juros para as adegas? Ou não pagar Segurança Social aos funcionários das adegas, à semelhança do que foi proposto na região do Douro?», interroga. Em último caso, se houver um grave problema de escoamento de vinho, as adegas devem «reunir-se e propor ao Ministro da Agricultura uma situação de emergência», adianta.

Patrícia Correia

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