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ADAG alerta para perigo de poluição da água

António Machado é contra a intenção de privatização do sector

A Associação Distrital dos Agricultores da Guarda tem bastantes preocupações com o actual estado da água na região, para além de estar profundamente desagrada com a previsível intenção do Governo em privatizar um dos bens mais essenciais de que o Homem dispõe. Nesse sentido, a Plataforma para o Desenvolvimento e o Ambiente, que integra 13 associações da região Centro em defesa pela despoluição das águas, entre as quais a ADAG, vai promover um seminário a 4 de Março, em Santa Comba Dão (Viseu), para debater estas e outras questões. A iniciativa foi anunciada na semana passada numa conferência de imprensa subordinada ao tema “Da Nascente até à Foz. Causas e Efeitos da Qualidade da Água da Região Centro”.

António Machado, presidente da ADAG, garante que todos os rios da região Centro, desde o Mondego ao Zêzere, passando pelo Dão, estão «muito poluídos, desde a nascente até à foz». Para comprovar a sua afirmação, o agricultor apresentou-se na conferência de imprensa com um garrafão de água recolhida na ribeira que nasce por cima de Gouveia e que estava tão escura que «parecia petróleo», justificou. «Esta é a qualidade da água todos os dias» na ribeira que passa na aldeia de Nespereira, banha Arcozelo da Serra e vai até ao rio Mondego, afirmou indignado. António Machado queixa-se que a ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) «nunca trabalhou a 100 por cento» e que agora está a funcionar, «mas directa para a ribeira», denuncia. Uma situação muito preocupante, tendo em conta que a freguesia de Nespereira, onde vivem mil pessoas, gasta água de um poço situado a cerca de 30 metros da ribeira. «Quem me garante que a água que gastamos não contém todas as mixórdias trazidas pela ETAR?», questiona, afirmando estar-se perante um «atentado à saúde pública».

«Isto não pode continuar assim. Ou as leis punem, de facto, quem polui ou então não vale a pena haver leis», desabafa. De resto, na opinião do dirigente, «há leis que não defendem o ambiente», deixando mais uma questão no ar: «O que vai acontecer às gerações vindouras se tivermos as linhas de água todas envenenadas?», alerta. Uma situação que se agravou no distrito, «porque as fábricas de lacticínios, com a febre de ganharem dinheiro, instalaram-se no sopé da serra e são fonte de poluição», denuncia. António Machado apresentou ainda um saco com dezenas de cartuchos de caçadeira que diz ter apanhado num quarto de hora num terreno seu. «Os cartuchos consegui eu apanhá-los, mas o chumbo ficou lá na terra e leva centenas de anos a desaparecer», avisou. Por outro lado, o presidente da ADAG garante que todas as associações da Plataforma para o Desenvolvimento e o Ambiente são contra a privatização da água: «A água nunca teve dono. É um bem comum e hoje caminhamos para uma nova sociedade de escravização com luvas de lã», acusa. Paralelamente ao debate agendado para dia 4, e que vai contar com técnicos «altamente qualificados» e muitos agricultores, vai ter lugar uma exposição alusiva à actividade das 13 associações que integram a plataforma, sob o tema “A qualidade da água na região”.

Ricardo Cordeiro

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