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«Acreditarmos no espírito empreendedor dos estudantes de Medicina da UBI»

Cara a Cara – Catarina Gonçalves

P- Que tipo de projetos vai apoiar o orçamento participativo do MedUBI?

R- O orçamento participativo visa apoiar monetariamente projetos que sejam dirigidos à comunidade estudantil ou local e que tenham um manifesto valor de aplicabilidade. Em termos de comunidade local, a Beira Interior tem caracteristicamente uma população envelhecida, com zonas mais periféricas, em que os cuidados de saúde não são de fácil acesso. Apesar desse ser já um âmbito de ação do Núcleo de Estudantes de Medicina da UBI, certamente que muito mais poderá ser feito para promover laços de saúde que a interioridade não afaste.

P- Como vai ser financiado este orçamento participativo?

R- É inteiramente financiado pelo MedUBI. Sendo um Núcleo de Estudantes sem quaisquer fins lucrativos, ter disponibilidade orçamental para este tipo de iniciativas não é fácil. No entanto, por acreditarmos no espírito empreendedor dos estudantes de Medicina e no impacto que as suas ideias podem ter na comunidade da Beira Interior foi realizado o esforço orçamental necessário para viabilizar esta iniciativa, nomeadamente através das várias atividades realizadas pelo Núcleo. Estou convicta que foi uma aposta acertada e que teremos a concurso distintos projetos de reconhecido valor.

P- Quem pode candidatar-se?

R- Pode candidatar-se qualquer estudante de Medicina da Universidade da Beira Interior. Tudo o que lhes é pedido é uma ideia. Uma ideia que possa transformar-se num projeto com potencial de aplicação e sucesso.

P- Está à porta mais um ano letivo, que atividades estão previstas?

R – O MedUBI é, reconhecidamente, um dos mais dinâmicos Núcleos de Estudantes a nível nacional. Em seis meses foram organizadas mais de 50 atividades dirigidas a estudantes e à comunidade, com cariz formativo, pedagógico, social, cultural, desportivo e recreativo, e o mesmo se espera para os próximos meses. Acreditamos que «um médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe» e esforçamo-nos permanentemente para organizar atividades que promovam experiências novas e enriquecedoras para quem representamos e para a comunidade que nos acolhe.

P- Acha que os estudantes da UBI se envolvem com o movimento associativo da academia?

R- Sinto que tem existido um esforço de envolvimento cada vez maior entre os estudantes, provavelmente fruto da compreensão e reconhecimento que, no futuro, serão competências necessárias que não se adquirem integralmente nos currículos das faculdades. Refiro-me à capacidade de comunicação e interação; de gestão de tempo, de equipas e projetos; de motivação e capacidade de compreensão e empatia; características que se adquirem e treinam apenas através do contacto com as pessoas. Tudo isto é possível vivenciar com o envolvimento associativo e estudantil. Para nós, futuros médicos, a empatia e a capacidade de interação e comunicação assume um papel ainda mais fulcral. Temos que nos esforçar, ainda enquanto estudantes, para melhorar estas competências. Não se ensinam nos livros, mas precisamos delas.

P- Enquanto estudante de Medicina como vê o futuro da profissão em Portugal?

R- Não consigo dar uma resposta tão positiva quanto desejaria, e sei que este sentimento é partilhado pela totalidade dos estudantes de Medicina a nível nacional. Numa proporção anual cada vez maior, jovens médicos têm sido impedidos de completar a sua formação em Portugal pela desadequação numérica entre as vagas para a especialidade e o número de ingressos em Medicina. Esta situação é verdadeiramente desastrosa para o futuro e qualidade da prestação de cuidados de saúde no nosso país, e nós, enquanto estudantes, temos vindo a alertar – sistematicamente, mas sem sucesso – o Governo. Parece-nos claro que há uma ausência de planeamento dos recursos humanos, extensível muito para além da Medicina. Nesse sentido, considero que o nosso futuro enquanto médicos está envolvo numa maré de incertezas e receios. Apesar disso, continuamos a lutar pelos cuidados de saúde que a população portuguesa merece e que nós, verdadeiramente, queremos ter a oportunidade de prestar.

Perfil:

Presidente do MedUBI – Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior

Idade: 24 anos

Profissão: Estudante de Medicina na UBI

Currículo: Frequentou três anos de Ciências Farmacêuticas na Universidade do Porto, mas trocou a cidade e o curso pela concretização do sonho de ser médica. Atualmente está no 5º ano de Medicina na Universidade da Beira Interior.

Naturalidade: Bragança

Livro preferido: ‘’O Zahir’’

Filme preferido: “The Shawshank Redemption”

Catarina Gonçalves

Sobre o autor

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