O que dizer do elenco ministerial que o novo governo de Sócrates apresentou ao País? Que é forte, que é coeso, que é bom, como nos veio dizer o próprio Sócrates no dia em que apresentou a equipa ao País? Estes auto-elogios, muito na linha do discurso da noite eleitoral, em que as primeiras palavras que lhe ouvimos foi o “conseguimos”, revelam uma atitude muito parecida com a daqueles treinadores, que antes de o jogo começar já estão a ganhar por muitas bolas a zero. Dizer que o governo é bom antes dele começar a trabalhar é quase como querer ganhar um campeonato antes do jogo inaugural.
Pode no entanto haver uma mensagem subliminar neste tipo de discurso. Já estou a ver os acérrimos defensores de quem ainda nem começou a trabalhar a invocarem objectivos de ganho de confiança na sociedade portuguesa. Mais uma vez a emenda é pior que o soneto. Afinal como é que uma equipa ganha confiança? Não é marcando golos, mostrando no terreno aquilo de que é capaz? Não será a confiança um dado que releva da experiência e do confronto com a realidade ao invés de acontecer por artes mágicas de discursos, de exaltações e de auto-convencimentos?
Uma vez que não é pelas mensagens expressas que poderemos encontrar os fundamentos para acreditarmos no que nos espera da governação nos próximos tempos, dediquemos então um pouco da nossa reflexão a decifrar as mensagens subliminares que o contexto da apresentação dos ministros deixa antever.
Para já a equipa parece sofrer de uma idade média demasiado alta. Mais ainda se atendermos ao estimado tempo de governação. Daqui a quatro anos a média de idades será muito próxima da idade da reforma. Para uma equipa a que se exige um jogo de alta rotação, de muita acção e de muito fôlego parece pouco aconselhável uma formação com evidentes sinais da passagem do tempo. A não ser que as remodelações sejam um dado à partida. Talvez esta seja uma versão “beta”, de lançamento, enquanto se ganha algum tempo para recolocar aqueles que efectivamente os virão substituir (tantos independentes não será por muito tempo). Isto claro, se não se perder o jogo logo na primeira parte do desafio.
Pondo de lado os discursos, puro facciosismo, como vimos inconsequentes. Descontado o factor idade, que poderá ser colmatado com o recurso às substituições (que aqui se chamam remodelações), como prever então as possibilidades de êxito ou sucesso do presente governo? No futebol também se tenta avaliar à partida o valor das equipas. Normalmente utiliza-se a observação das conversas entre os jogadores, seja no campo, no balneário, ou no dia a dia, para começar a ganhar uma ideia do ambiente e da fibra de uma equipa. São valorizados os comportamentos e os diálogos de cooperação, a entreajuda, o espírito de sacrifício, o companheirismo, os aspectos volitivos. Para um treinador atento, é fácil saber ao fim de uns dias de treino, as qualidade e as potencialidades do grupo que orienta.
Se aplicássemos uma observação semelhante ao governo de Sócrates? Se tentássemos com base nos sinais que transparecem estabelecer uma previsão do seu sucesso? Para já abona em seu favor a forma discreta e expedita como formou o governo. Este é afinal o sinal mais positivo. Quanto aos sinais negativos teríamos a primeira intervenção do ministro das finanças. Anunciar possíveis aumentos de impostos de uma forma abstracta não augura nada de bom. Esperemos pelas próximas intervenções.
Por: Fernando Badana


