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Achados geológicos de valor mundial na Gardunha

Cinco blocos graníticos classificados como Imóveis de Interesse Municipal

Para além das paisagens deslumbrantes das cerejeiras em flor na Primavera e dos castanheiros coloridos no Outono, os amantes da natureza têm novos encantos para contemplar na Serra da Gardunha. Trata-se de cinco afloramentos graníticos descobertos em 2004 entre Castelo Novo e Louriçal do Campo pelo geólogo Ricardo Silva no âmbito de um levantamento das formas geomorfológicas graníticas da Gardunha. Achados geológicos que já foram classificados como Imóveis de Interesse Municipal pelas autarquias de Castelo Branco e do Fundão e que irão fazer parte do «itinerário da visita à Serra da Gardunha», adianta Paulo Fernandes, vereador da Cultura na Câmara do Fundão.

Em causa estão blocos com «elevado valor geológico à escala mundial, já provado e ratificado por especialistas ligados à UNESCO e à Progeo – Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico», sublinha. Descobertos recentemente, estas estruturas foram formadas há milhões de anos, salienta o geólogo, caso do bloco de “Facturação Poligonal”, no Louriçal do Campo (Castelo Branco), gerado «eventualmente há 300 milhões de anos». Esta rocha apresenta um padrão geométrico bastante atractivo formado pelas movimentações da crosta terrestre. «Por instantes, há quem julgue ver a imagem da “carcaça de uma tartaruga”. É um exemplo de rara beleza e foi, inclusive, utilizado para publicação pelo professor Vidal Romani, director do Instituto de Geologia da Universidade da Corunha, uma referência mundial em geomorfologia granítica e meu tutor de doutoramento», adianta Ricardo Silva. O outro bloco achado no mesmo local é um “Bloco Fendido” com seis metros de altura: «Apresentava uma fractura vertical, mas, com o passar dos tempos, a actuação dos agentes erosivos e a acção gravítica, cedeu», explica.

Já em Castelo Novo (Fundão), o geólogo descobriu o “Bloco Residuais” e o “Tor”. Um dos “Blocos Residuais” é uma forma geomorfológica «colossal» com 13 metros de largura e 8 de altura. Corresponde a um bloco granítico exposto à superfície após a remoção das rochas e solo, e que foi originado abaixo da superfície topográfica pela acção dos agente da meteorização. O outro é de menores dimensões (3 metros de diâmetro) e sofreu uma rotação da base da origem, talvez provocada pela acção do gelo ou da granítica. Já o “Tor” são «pequenos blocos residuais que se formaram da mesma forma que o bloco residual, mas, como a remoção do solo foi mais rápida do que a alteração dos próprios blocos, estes ficaram amontoados uns em cima dos outros, respeitando a estrutura que tinham quando estavam enterrados», descreve Ricardo Silva. A Serra da Gardunha preserva muitas outras formas graníticas, tendo estas sido escolhidas pelo geólogo por serem «as mais atractivas» e estarem muito bem preservadas. Ricardo Silva não tem dúvidas que este património será uma mais-valia para a região, nomeadamente para quem estuda geologia. «Podemos até ganhar turismo científico com a vinda de especialistas ao local», refere, dada a importância do estudo deste tipo de estruturas para conhecer o funcionamento da terra e da natureza.

Liliana Correia

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