Como seriam as aulas há 40 anos atrás? Muito diferentes do que são actualmente? Ou até mais parecidas do que julgamos? Para o apurar, fui conversar com os professores Hélder Jerónimo e Teresa Alves, alunos há 40 anos.
De facto sim, existia mais disciplina, mas alguns professores já eram um pouco abertos ao diálogo. O ensino já não era tão de “decorar” como se pensa, sendo-o mais ou menos consoante as disciplinas.
Não existiam turmas mistas, nem era permitido o convívio entre rapazes e raparigas dentro da escola. Para tal, os blocos A, B e C eram destinados às raparigas, e o D aos rapazes, não havendo comunicação dos primeiros para o segundo. “Apenas elas tinham acesso ao salão”, conta o professor Hélder. Os blocos E, F e G ainda não existiam. Ao pé de ambos os blocos C e D, existiam espaços abertos, os pátios, que os alunos frequentavam durante os intervalos.
Passados 2 ou 3 anos da referida data, os efeitos do 25 de Abril, da revolução e do desejo de inovação começaram a surgir. Os pátios foram cobertos para que aí se pudesse praticar educação física, já que anteriormente apenas existia o que era chamado o ginásio pequeno, que era frequentado apenas pelas raparigas. Pouco tempo depois disso, os acessos entre blocos foram abertos e turmas mistas surgiram, apesar de apenas no Secundário (na altura correspondente aos 6º e 7º anos).
No dia-a-dia, as raparigas já só levavam “uma bata branca, já com um feitio mais liberal e muito bonita”, nas palavras da professora Teresa Alves. Os rapazes não tinham qualquer tipo de uniforme para o dia-a-dia. Para Educação Física, os rapazes levavam calção e camisola de manga cava, ambos brancos, e as raparigas levavam calção com saia por cima e camisola, também brancos.
Na altura, verificava-se também algo que hoje já não acontece: quando havia feriados, os alunos eram obrigados a sair da escola. O grande problema surgia nos dias de neve, chuva e frio, em que não havia sítio onde esperar a aula seguinte.
A presença do reitor era grande. Naquele tempo, a chamada sala S.O.P.A. não existia, nem nada do género. Quando os alunos iam para a rua numa aula, ou eram apanhados a fumar dentro do recinto da escola, eram chamados ao gabinete do reitor, por vezes até acompanhados dos pais. À terceira vez que tal acontecesse, era aberto ao aluno um processo disciplinar e o mesmo era “convidado” a deixar a escola.
Em termos de infra-estruturas, para além das alterações já referidas, o único bar que existia era o grande. A biblioteca era a mesma que tínhamos antes das obras começarem, sendo já bastante completa. Assim sendo, a escola tinha excelentes condições na época – era grande e novinha em folha, e o ensino começava a modificar-se, tornando-se mais liberal e tolerante.
Ana Lurdes Logrado (10º A)