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A voz sem limites

Tanya Tagaq, Shlomo, Huun-Hur-Tu e Bernard Massuir actuam este mês no TMG no ciclo “Vozes do Outro Mundo”

A voz, um recurso tão surpreendente quanto diversificado, é o mote do ciclo “Vozes do Outro Mundo”, que começa amanhã à noite no Teatro Municipal da Guarda (TMG). Ao programa estão a cantora inuit Tanya Tagaq, o inglês Shlomo, os tuvanos Huun-Hur-Tu e o belga Bernard Massuir, todos autênticos mestres no domínio deste “instrumento”.

A abrir a iniciativa está a jovem canadiana Tanya Tagaq, num espectáculo único em Portugal. Esta “throat singer” [literalmente, “cantora de garganta”] conseguiu reavivar a tradição secular do “inuit vocal game”, o canto tradicional dos esquimós, para a ribalta da música. Colaborou com Björk, com quem gravou “Ancestors”, e o Kronos Quartet. No sábado deixamos as planícies geladas do círculo polar para o ambiente urbano do “human-beatboxer” Shlomo. A sua página na Internet anuncia-o como o “one-man-band” do futuro, mas até lá este britânico é mesmo um multi-instrumentista da voz especializado no “beatboxing”, a técnica vocal que reproduz ritmos e sons de instrumentos. Também ele colaborou com Björk em “Oceania”, o que lhe valeu uma nomeação para um “Grammy”. Neste concerto único em Portugal, Shlomo apresenta, para além de material original, versões de músicas de Snoop Doggy Dog e The White Stripes, entre outros.

Da pequena república de Tuva (Federação Russa) vem a terceira proposta das “Vozes do Outro Mundo”, os Huun-Huur-Tu. Trata-se do mais importante grupo de “throat-singing” daquele país, situado entre a Mongólia e a Sibéria, e actua no dia 20. Para além do canto gutural, os seus elementos tocam instrumentos tradicionais produzindo uma música inspirada, em grande parte, nas raízes nómadas dos povos ancestrais de Tuva e na sua relação com a natureza. A fechar o ciclo actua Bernard Massuir com o espectáculo “La voix est libre” [a voz é livre], que promete humor e minimalismo para ler entre linhas musicais. Para além da voz, o músico e humorista toca um antigo instrumento francês, uma espécie de acordeão que é tocado com os pés. Mas nem só de concertos se fará este evento, uma vez que o Serviço Educativo do TMG vai organizar oficinas e outras actividades paralelas. Na terça-feira, as crianças tiveram a oportunidade de aprender a construir um iglô, numa actividade relacionada com o espectáculo de Tanya Tagaq.

Na próxima terça à noite será exibido o filme “Nanook, o esquimó” (1922), de Robert Flaherty, que relata o dia-a-dia de um esquimó. Foi o primeiro documentário antropológico de longa-metragem da história do cinema. Entretanto, no sábado à tarde, Shlomo orienta uma oficina de “beatbox” e, a fechar o ciclo (dia 27), decorre um atelier de voz e expressão individual, com Lúcia Lemos, destinado a professores, jornalistas e a outros profissionais da voz. Os interessados em participar nestas duas últimas actividades podem inscrever-se na bilheteira do TMG ou através do Serviço Educativo.

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